novembro 27, 2008

Thanksgiving - The 5 things I'm thankful for - 1

Das coisas que me fazem bem, livros estão no topo da lista.


É como eu já disse para algumas pessoas, num recente assunto, que o encanto, a paixão pela literatura é como um bicho que te morde e se aloja em ti. É como tu virar zumbi. Não tem cura. Não tem mágica que resolva, não tem nem morte que pacifique, uma vez que zumbis não morrem, seguem correndo em busca de miolos para comer e aplacar a dor. Acontece que eu não saio em busca de cérebros pra me alimentar (nem de humanos, nem de outras espécies), mas saio em busca da palavra exata e da frase perfeita.


É um deleite e um horror ao mesmo tempo, sabe, porque ao mesmo tempo que um universo infinitamente mais rico e mais cheio de possibilidades se abre, que é o da literatura, o mundo em que se vive, o mundo real, das coisas palpáveis e denotativas, digamos assim, passa a ser mais pobre, mais feio, mais sujo, fedido.


Porque nunca mais o zumbi literário poderá viver qualquer situação sem pensar que na palavra escrita poderia ser melhor. Que o tal diálogo que o zumbi está tendo com alguém seria muito mais interessante se o Nick Hornby tivesse escrito. E o zumbi apaixonado jamais (e acredite em mim, por mais absurdo que possa parecer, mas, sério, jamais) vai viver um amor tão lancinante e bonito como o descrito pelo Marçal Aquino. Nem um dia ensolarado pelo parque será tão iluminado na vida real como se fosse de uma cena de Henry James. Nenhuma canalhice é melhor que as canalhices contadas pelo Nelson Rodrigues. Nenhuma dor é tão aguda como a que Inês Pedrosa nos faz viver no Fazes-me falta.
E aí, leitores e visitantes deste blog, dançou. Acabou. Não tem jeito. O vício será sempre maior e maior e exigirá doses cada vez maiores, cada vez melhores. Sim, porque chega um momento que não é mais qualquer texto que satisfaz, tem que ser bom, tem que ser robusto, tem que ter vida, significado, densidade. Aí, a vida que se vive passa a ser um mero meio de sustentar a vida que se lê (ou que se escreve, no meu caso).
Mas é como eu falei, a recompensa de virar zumbi ("Miolos! Miolos!") é que a riqueza que se obtém é incomensurável.

Thanksgiving - The 5 things I'm thankful for - 2


Viajar é quase tão bom quanto literatura.

Viajar faz a pessoa repensar, aprender, rever, conhecer e reconhecer, degustar, provar, todas esses verbos que acabam por nos tornar melhores. (ok, isso de passar por uma experiência e tornar-se melhor é uma capacidade que não vem de fábrica com todos os seres humanos, mas que pode ser adquirida mediante um certo treino e um tanto de vontade, então cuidado ao generalizar achando que todo mundo fica melhor. Não é bem assim. Mas esta não é uma discussão para se ter agora, portanto, voltemos ao assunto.)

Todo mundo deveria ter a chance de fazer uma grande viagem, uma viagem dessas life-changing, que alteram profundamente nosso modo de pensar e de ver o mundo. Comigo foi ter feito intercâmbio. Foi ter caído no mundo, foi ter saído da bolha, foi ter atravessado para sempre os portões da Vila Romana, para usar uma alegoria curitibanística.

Sabe a história da caixa de Pandora? Pois bem, é quase isso, mas a caixa que se abre é pra dentro, é no pensamento. Sim, gera dor. Mas, como diria uma professora minha do colégio, depois da dor vem o prazer. E a dor de perder a inocência da infância se dilui nos prazeres de descobrir o mundo, de desvendar o mistério de si mesmo.

Não, não é fácil. Como não foi fácil pra mim morar com pessoas que me acolheram carinhosamente mas que, querendo ou não, eram estranhos, com hábitos e gostos - falando cultural e socialmente - diferentes dos meus. Não foi fácil perder o contato com as referências e ter que esticar os braços longe para tatear e ter onde se segurar. Foi complicado ter que voltar para um mundo que parecia em tudo tão igual ao que eu havia deixado, mas que era completamente outro, aos meus olhos.

Mas não há crescimento sem dor, ou como diriam os anglo-saxões, no pain, no gain. E o preço que se paga para isso retorna em dobro.



Thanksgiving - The 5 things I'm thankful for - 3

I'm very much thankful for my heritage.

Eu não poderia ser como sou (e, bem, não sei se vocês notaram ainda, eu adoro ser como sou!) se não fosse a história que veio antes de mim.

E o que eu mais gosto, de poder saber a história da minha família, é poder aprender com ela. É poder saber o que foi feito antes de mim, para que eu possa honrar esse passado, e fazer valer ainda mais o meu futuro.

O que me foi legado me faz muito contente, e muito orgulhosa dos feixes de histórias entrelaçados que se misturam à minha história e que eu levarei adiante.

E eu agradeço profundamente por saber o valor de tudo isso, de todas essas histórias de rios transpostos e mares navegados e guerras travadas e ideologias batalhadas que influenciam diretamente o modo como eu vejo o mundo.


Thanksgiving - The 5 things I'm thankful for - 4

De acordo com o Aurélio, resiliência é a
propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica.

Num segundo significado, resiliência é a resistência ao choque.

Resiliência é a capacidade de voltar a sorrir depois de muito chorar. É a capacidade de poder de novo esticar a mão e alcançar alguém depois de ter passado muito tempo encolhida.

Resiliência é criar uma casca que sirva de armadura para as coisas ruins que muitas vezes tentam nos atingir, e ainda manter o interior macio para um merecido abraço depois da batalha.

Assim como algumas pessoas vêm com defeitos de fábrica gravíssimos, como falta de ética e falta de noção, não são todas as pessoas que possuem essa capacidade de voltar ao normal depois de ser encolhido ou esticado. Alguns não conseguem nem ser esticados sem arrebentar.

Não tenho certeza se nasci resiliente. Mas aprendi desde cedo a ser. E sou muito grata por ter aprendido a importância disso.


Thanksgiving - The 5 things I'm thankful for - 5

Uma piada interna familiar conta que o sonho do meu avô paterno era que eu fosse pianista. Quando eu nasci ele pegou minhas minúsculas mãos e disse, com esses dedinhos, só poderá ser pianista.

Eu cresci e nunca fiz nem uma aula sequer de piano. Aliás, a única coisa mais perto de música que aprendi foi a tocar o dó-ré-mi numa flauta doce, e isso antes de chegar a uma idade com dezena. Naquela época eu ficava mais encantada com o fato da flauta ter gosto de plástico (a minha era cor de chocolate mas não tinha gosto de chocolate) do que com as possibilidades de som que eu poderia obter dela.

Mas eu gostava de outras coisas, e umas que eu mais gostava era pegar meus livrinhos da coleção da Taba, colocar os disquinhos na vitrola e acompanhar as histórias que eram contadas com o que estava escrito no livrinho. Eu achava fascinante que um amontoado de letrinhas poderiam se transformar em aventuras de onças e marcianos e marinheiros, desde que colocadas nos lugares certos. E isso quando ainda não tinha idade para completar os dedos de uma mão. Ainda hoje fico.

E su eternamente grata pelos constantes incentivos à leitura recebidos desde sempre. E espero que meu avô entenda a minha preferência, hoje, pela musicalidade de frases bem construídas e ritmos e coordenação de parágrafos. Eu certamente me divirto muito mais teclando as letras do que jamais poderia tocando peças pretas e brancas em um piano.


Thanksgiving

Hoje é comemorado Thanksgiving nos E.U. da A.

Eu sei que não temos - nós brasileiros que não desistimos nunca - o hábito de parar um dia para celebrar as coisas pelas quais somos gratos, mas acredito que é um hábito louvável e necessário.

Portanto hoje sou grata por ter encontrado quatro moedas de um real na minha bolsa, enquanto procurava uma joaninha.

Acabei achando a joaninha e agora estou mais contente.

(Será que se eu continuar abrindo e fechando os bolsos da minha bolsa, encontrarei mais moedas? Será acabarei por encontrar notas de cem reais? Hmm, better not push my luck. Melhor continuar agradecendo.)


Alguém há de me entender.

Estava enlouquecida por causa da Feira, que acabou e da qual eu nem falei nem nada. Mas não era por isso. Estava quase arrancando os cabelos porque queria-precisava encontrar minha lista de livros desejados e não achava em lugar nenhum.




Abri todas as gavetas - e isso ainda antes da Feira -, revirei todas as bolsas, e nada.




Pensei cá com meus botões que só poderia ter deixado dentro de um caderninho*, que é onde eu coloco todas as coisas importantes da vida. Mas nada, nem isso. Abri todos, folheei-os um a um, e achei tanta coisa interessante, anotações, bilhetinhos, idéias, minha outra identidade, que até me perdi no meio da procura.




Mas nada da lista.



Como eu sou Cristina e sou prática, deixei de lado a história da lista, e resolvi experimentar a Feira no instinto. Feeling with the guts, farejando os livros aos poucos, passeando pelas bancas sem muito rumo certo.




Foi ótimo, porque achei diversas coisas que sequer procuraria se estivesse munida da lista. Achei a Joyce Carol Oates, e o Tomasi di Lampedusa, e a Jane Austin, e a Virgínia Woolf, e o Alan Pauls e o Alain de Botton. E, claro, o Bioy Casares, que apesar de já lido, está numa edição tão linda, mas tão linda, que eu não resisti. E, surpresa, nos arredores da Feira, numa livraria que fica fora do quadrilátero da Praça, encontrei Os Miseráveis, na edição nova, e a Anna Kariênina, os dois pela metade do preço. METADE!! Eles são lindos, meus livros!




Aí que hoje tive uma folga, e, como sou brasileira e não desisto nunca**, resolvi colocar algumas coisas em dia, em ordem, jogar fora alguma tralha, essas coisas. E, adivinhem se não encontrei minha amassada lista? Claro que sim. Dentro de um livro, junto com uma consulta marcada para maio, embaixo de uma pilha de papéis de contos lidos em aula, misturados com revistas e outras bobagenzinhas.




A busca não foi em vão, no meio do caminho encontrei várias outras coisas que estava procurando. E eu precisava de um certo sentido de ordem, mesmo que fosse um tantinho de nada, mesmo que apenas ao meu redor.



Faltou dizer do Machado de Assis, esse com a capa linda ali da foto, e uma edição nova do Madame Bovary. E um Umberto Eco, por influência da palestra da Dra. Joana, e um Jung. Viu, é tanta coisa que eu me perco com tão pouco. Mas tenho certeza que isso é a iminência dos trinta. Não digo que é inferno astral porque passei o ano inteiro assim (a menos que eu seja de Saturno, e daí tenha apenas um ano de idade ainda não completo), mas sei que o ano que vem (ou os próximos trinta, dependendo da contagem) será bem melhor.
* Piada muito mais que interna. Piada quase que comigo mesma.
** Rá!

novembro 26, 2008

Movimento


É como o pêndulo. É seu movimento constante que faz girar as rodas internas do relógio, que faz as horas passarem, que faz o cuco sair e cantar a cada sessenta minutos.

E assim também é com as outras coisas. As folhas, por exemplo. Elas vão, com o vento, mas devem voltar, para que o vento as leve de volta, para que elas voltem, apenas para poderem sentir novamente o vento e continuarem nesse movimento infinito.

O fato é que todas as coisas são assim, ainda mais que circulares, pendulares. Constantes. Mas esquece-se tão facilmente as coisas que são óbvias e certas, que por vezes é possível se perder entre o mar e a praia, desentendendo o movimento da maré. Mas o que se sabe não se deixa de saber, e a sensação provoca logo a lembrança, e o mar invade a praia e os pés e o gosto na boa apenas para se recolher e poder retornar e inundar o mundo de novo.

E é como o pêndulo. As coisas que nos são importante ora perdemos, ora esquecemos, apenas para podermos lembrarmos e encontrarmos, num olhar revestido de novidade que permite a manutenção infinita da relaçaõ, a presença constante.

O pêndulo tem que ir para voltar. A maré precisa se encolher para alcançar a praia de novo. O universo pulsa, se encolhe e se estende e assim tudo é, tudo continua, tudo se mantém.




novembro 20, 2008

Amar é

Nunca precisar provar nada pra ninguém.*
Achei que precisava contar isso. Até pra combinar com o clima lá do IPD.
No mais, a chuva cai. O frio se faz presente. Nem parece quase-verão e os preparativos já estão sendo preparados.
(aguarde mais surpresas lá no AdC**. Como agora eu tenho vários leitores e leitoras de diferentes cantos do Brasil - antes era um só, ou, uma só - preciso atualizar. Não, ainda não tem nada lá hoje. Mas haverá!)
* The biggest, the best, the ultimate love: self-love.
** Sim, eu amo criar siglas, apelidinhos e nomes secretos. E me divirto com isso!

novembro 15, 2008

De momento

De momento, estou devendo os acontecimentos marcantes da Feira, eu sei.

De momento, estou na correria, porque a Feira só acaba oficialmente amanhã, dia 16, com a I Maratona de Contos, numa ótima oportunidade de encontro entre leitores e autores.

De momento, não consigo pensar em muita coisa, estou preocupada e absorvida e realmente envolvida em algo muito maior e melhor que vai acontecer.

De momento, estou com sono, muito sono.

De momento, estou contente porque tem um texto meu que estará exposto no Tartoni Ristorante que vai abrir no Barra Shopping Sul.

De momento, estou feliz pelo prêmio conquistado pela Pati, ou melhor, a RRPP Patrícia d'Ávila, com o primeiro lugar no concurso nacional de projetos de Relações Públicas, pelo trabalho lindo que ela e a equipe (oi, Raquel!) estão fazendo lá no meio da Floresta Amazônica.

De momento, quero que a maldade (desde a grande maldade, em atos públicos, até a pequena - a mais sórdida -, contida em pequenas palavras e invejas disfarçadas de críticas) volte para seu lugar de origem e vá atrapalhar quem as gerou.

De momento, continuo exibida e me exibindo, porque o Patrono da Feira citou a mim e aos meus colegas queridos de Livro entre os nomes da nova literatura gaúcha. (Aos amigos, para comemorar comigo, e aos invejosos/maldosos/silenciosos de plantão, para se morderem só mais um pouquinho, basta clicar aqui.)

De momento, sempre lembro de um ditado árabe que diz que se for apagar a minha luz porque alguém pediu, porque está incomodando muito, isto não ajudará em nada a fazer com que os outros brilhem mais, apenas tornará o mundo mais escuro.

Eu volto, sério, volto e escrevo e coloco até as fotos que não couberam no IPD. Mas não de momento.

novembro 06, 2008

Feirices e faceirices

Estou completamente inserida e imersa na Feira.

Há várias coisas que precisam ser contadas, mas agora não há tempo.


(É que, além da Feira, outras coisas me consomem e me demandam, e há de ter Cris para todas.)


(E agora o braço dói. Demais.)


(Só espero que ninguém, desta vez, fique virado do avesso.)