Tempos atrás minha irmã e eu estávamos conversando sobre as conversas de que não participamos.
Eu, por exemplo, não assisto ao Faustão no domingo. E muitas vezes nem ao Fantástico. Então, na segunda-feira, não participo de, aproximadamente, 50% das conversas. Aí, eu não costumo assistir a novela e daí acabo ficando de fora de mais uns 30% das conversas.
Quando é época de futebol, então, aí eu tenho que me contentar em falar do tempo, do trânsito, ou de alguma outra coisa.
Nem o jornal eu tenho lido ultimamente (o que é horrível, eu sei, mas há coisas mais urgentes, para mim, neste momento), então fiquei sem saber que um cara pousou no Hudson congelante e fiquei sem saber todas as outras coisas. Eu fiquei sabendo sobre o cara que forjou a própria morte, que preparou uma moto e que jogou o próprio avião num campo e que foi pego numa câmera de segurança de um motel em beira de estrada.
Mas aí eu penso, como é que eu vou falar com o meu colega de trabalho sobre a dificuldade que foi ler Bioy Casares na beira da praia. Não que Bioy Casares seja ruim, mas é que o clima de beira de praia (com sol e conversas e todas as distrações possíveis) não combina sabe. Ou então com a velhinha-do-ônibus, aquela uma que começa a falar do tempo e depois fica contando toda a vida desde quando veio ainda nova lá de São Borja (ou de Alegrete, ou de Uruguaiana, é sempre assim uma cidade beeeeeeeem do interior) pra estudar e daí virou professora e casou e criou os filhos que a abandonaram e a história segue. Como é que eu vou participar de uma conversa como essas se até pouco tempo atrás não sabia onde ficava São Borja ou Itaqui.
Então que é impossível participar de todas as conversas. Principalmente as mais corriqueiras. Essas que abordam os assuntos mais comuns. Porque, querendo ou não, se a gente for parar pra reparar, as conversas "small-talk" (e não confunda com Small Talk, com a marca registrada e tudo, com Smalltalk) giram sempre em torno da programação da tevê, dos esportes, da novela.
O pior de tudo são as conversas que ficam entre 10 e 20% das quais eu não participo. Essas são das pessoas que assistiram ao Pânico na Tevê na noite anterior e querem dividir os horrores que fazem aqueles apresentadores bastante mal-educados e, muitas vezes, grosseiros. Mas daí, desse percentual eu faço questão de ficar de fora.