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junho 22, 2009

Enquanto isso, no Irã...

(Um aviso. Para aqueles que nadam raso, com medo de mergulhar, mera notícia. Para escafandristas, será um grande iceberg. Ou, simplificando, para bom espremedor, meia laranja.)


Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, engordou, deixou os cabelos crescerem, cortou a barba e virou mulher. Ele é áspero, ácido, e, acima de tudo, dissimulado. Um horror de pessoa. Ainda mais para se ter por perto. Porque Ahmadinejad controla um país achando que controla a História. Que controla o Mundo. Ele resolveu agora que merece o Poder, que é uma consequência divina de sua existência manter-se no Poder. Ele resolver agora que é sua função controlar tudo e tudos.

E a pior parte vem agora. Ahmadinejad virou meu chefe. O mesmo Ahmadinejad que implicava comigo quando eu cheguei ao Irã, quando eu botei meus pés nesta terra árida e seca e cheia de pó. Cheia também de ódio e mágoas e, por Alá, tantas intrigas e tantas tramas por baixo dos panos e dos véus, que até eu entender onde vim parar e o que estava acontecendo à minha volta, o plano já estava traçado e a bomba atômica era uma realidade.

(Ahmadinejad, meu chefe, e sua megalomania)


Pois eu achei que playing low, sabe, aquela coisa de fazer meu trabalho direitinho, e não chamar atenção e não desagradar o Big Boss. Como por exemplo nunca usar coisas roxas nem azuis, porque ele não gosta, e lhe desagrada mais ainda coisas bonitas que não lhe pertençam e que ele não possa ter. Sabe a criança que põe sua bola debaixo do braço e bolta pra casa porque o Kichute do vizinho é mais bonito e apareceu na tevê. Difícil de agradar.

Tamanho engano espero nunca mais cometer. Ahmadinejad é vingativo, é maldoso. E primeiro me tirou o direito de estudar. Mulheres não podem estudar, porque estudo gera pensamento, e pensamento gera mudança, e mesmo que a mudança seja boa, qualquer mudança para Ahmadinejad é sempre ruim, chacoalhar sua masmorra de Poder (que ao fim e ao cabo é feita da mesma areia e pó e terra seca) é sempre a pior escolha.

Mas aí é que aconteceu. Eu comecei mesmo a ter idéias. Idéias de liberdade, idéias de justiça. E achei mesmo que o meu voto fosse mudar o mundo. Juro, eu acreditei nessa baboseira. E quando vi que era tudo uma armação, fui ao poder mais alto, reivindicar direitos e exigir punição a toda a maldade que vinha acontecendo.

Marquei audiência com ninguém menos que Aiatolá Ali Khamenei, que é quem manda mesmo e sempre dá a última palavra. Agora imagine, Aiatolá Khamenei é uma pessoa alta, mas perdeu a barba, e tirou o turbante, deixando a careca avançada à mostra, com os mesmos óculos. E a mesma imagem do Aiatolá Ruhollah Khomeini, entidade máxima religiosa e mandatória.

(Khamenei e seu enigmático sorriso me enganaram direitinho)


Pois bem Aiatolá Khamenei, que sempre me pareceu uma pessoa de bom senso, com um tanto de atrapalhação mas, ao fim, uma pessoa correta, justa. Pois bem, a medida que ia falando, ele se afastava e se afastava, esticando pelos lábios um sorriso duvidoso, com um tanto de malícia escapando por cada canto da boca.

Como se dissesse, você acabou, minha cara, ele não moveu um dedo para me defender. Esticou o pescoço para sinalizar ao representante da Guarda Revolucionária do Irã, e foi o meu fim.

Não sei como eu pude ser tão ingênua. Agora que estou presa, prestes a ser torturada, nem a Anistia Internacional pode me salvar agora.



(Khomeini é o pastor e certamente me torturará.)

março 31, 2009

Question,

Uma pergunta, a propósito, quando é que vai acabar essa história de aquecimento e vai chegar logo o Resfriamento global?


















(E por falar nisso, sábado teve a Hora do Planeta, sessenta minutos em que o mundo inteiro se comprometeria a apagar as luzes e a desligar a água e os carros e pensar no futuro do mundo, quanto ao meio ambiente. Pelas notícias, a coisa funcionou direitinho, no mundo todo. Eu, de minha parte, cuido das minhas atitudes com relação ao meio ambiente todos os dias. E acharia bem mais produtivo e eficaz se todas as pessoas entendessem que mais importante é fechar a torneira, é não lavar calçada nem carro com mangueira, é apagar as luzes, é gastar menos papel e usar menos sacola plástica, é imprimir menos papel, e não só ficar à luz de velas por uma hora, durante um dia apenas.)



Eu não aguento - tchau, trema, saudades -, não aguento mais o calor!

outubro 29, 2008

O que faz de um homem um líder

Não é o fato de ele ser melhor, mais inteligente, mais forte, mais bonito.

É a capacidade que ele tem de enxergar um futuro para nós quando nós sequer conseguimos ver o chão em que pisamos e de nos entusiasmar com sua visão, e nos fazer abdicar das diferenças que nos separam para nos preocuparmos com as características que nos fazem semelhantes.





Ele é um líder. Desses que a gente não encontra por aqui.

Eu quero votar nele!

A diferença entre significante e significado

Agora que as eleições acabaram e os prefeitos já estão todos escolhidos, reservo-me o direito de comentar alguns fatos da eleição daqui de Porto Alegre. Ok, a partir de agora esqueça um pouco as diferenças ideológicas e partidárias. Considere apenas as pessoas e o que elas fizeram, sem vincular a isso qualquer sigla, símbolo ou partido.

O pior de tudo, pra mim, foi assistir, durante um dos programas, ao Chico Buarque, fazendo elogios a um dos candidatos. Candidato esse que, não raro, fez de tudo para vincular a imagem do Presidente da República à sua, numa atestada necessidade de validação.

Pois bem, o que leva uma pessoa pública a precisar da imagem de outra pessoa pública para ter alguma credibilidade? O quê, além da sua própria debilidade, ou, nulidade?

Penso que (e veja aqui o que o avançado da noite faz com a pessoa: como seria possível que eu exprimisse outro pensamento que não o meu, e pudesse falar de coisas das quais discordo? Mas, continuemos) isso é o que de pior uma pessoa pode mostrar de si mesma. É como se a pessoa estivesse o tempo todo dizendo, olhem para mim, olhem como eu brilho e como eu tenho uma imagem bonita e reluzente, mas por favor não procurem com muito afinco, porque não acharão nada além dessa casca, tão frágil quando uma verdade escrita na areia.

É como aquelas pessoas que compram os livros para enfeitar a estante, ou que não passam da leitura de um pequeno poema, e daí se intitulam conhecedores da obra do autor, como se leitura e conhecimento funcionasse com efeito fractal.

Lembra um pouco o Mágico de Oz, com todos os efeitos especiais e fumaça, só para esconder um senhorzinho montado numa máquina alta e cheia de botões, assustado e impotente.

É por isso que fiquei, mais que tudo, decepcionada ao ver a campanha de um dos candidatos à Prefeitura de Porto Alegre. Ok, houve erros e abusos de ambos os lados, e a cada programa eu perdia um tantinho mais da minha já tão rarefeita crença na sustentabilidade da raça humana. Mas o que foi pior, ao meu ver, foi a pessoa precisar chamar alguém da grandiosidade do Chico Buarque (bom, vamos desconsiderar o fato de ele ter aceitado isso. Vamos desconsiderar o fato de que ele sequer vota na cidade. Vamos desconsiderar tudo isso, porque senão o post vai ser imenso e pode seguir por caminhos inimagináveis. E vamos continuar.), como se a luz dele (ou o sucesso, ou a inteligência, ou, pra explicitar a relação com o título, o conteúdo dele) passasse automaticamente para a pessoa, como se, ao estar perto, a credibidilidade dele fosse automaticamente transferida para a pessoa.

O que essa pessoa (ou os responsáveis pela campanha ou mesmo o partido)ela não percebe é que apenas reflete, como um latão polido reflete o sol do meio-dia, mas fica completamente opaco ao cair da tarde.

E esse é o resumo da diferença entre significante e significado. E de repente as pessoas começam a perceber essas coisas, já não engolem qualquer coisa e passar a questionar mais o que fica por trás da fumaça ou o que vai além do basicão que se aprende no colégio (como conhecer de cor "de tudo, ao meu amor serei atento" ou "o poeta é um fingidor" e não saber o que passa "além da Taprobana" nem quem venha a ser Ricardo Reis e Alberto Caeiro.) e talvez isso seja aprender a pensar por si, e não aceitar qualquer coisa tão facilmente.

Mas talvez seja apenas uma aberração no comportament coletivo, conseqüência da crise mundial econônima ambiental e de pensamento.

Ou vai ver que eu já estou ficando com muito sono e já não consigo mais discernir entre o que está dentro e o que está fora, sabe, nessas horas em que o acordar e o dormitar são muito parecidos e se caminha com um pé sobre a linha do sonho e outro sobre a linha da realidade.









Obs.: Comentários comentados abaixo. E aguarde a campanha "peça o Inventário na Feira." Ok, se vc já tem um, ótimo, agradecemos, não precisa comprar outro. Basta ir lá e pedir. E se você não tem ainda, chegue lá na banca da Nova Prova e pergunte se tem. Só pra ver se eles vão mesmo deixar os livros lá à disposição.

outubro 14, 2008

Eu deveria

Eu deveria estar escrevendo. Eu deveria estar estudando. Ou, eu deveria estar é dormindo.

Na verdade, a esta hora tão avançada, em que um dia passa a ser o outro (mas eu me engano dizendo que só deixa de ser um para ser o outro depois que eu durmo e daí eu fico me enrolando e tentando esticar ao máximo a quantidade de horas de um dia ao manter os olhos abertos, mesmo que a mente já esteja desligada desde que o dia oficialmente deixou de ser hoje e passou a ser ontem, independente do conceito a ele atribuído por mim.), eu deveria estar dormindo.

Deveria estar descansando. Deveria estar ao menos lendo, que é coisa simples de conciliar entre o deitar-se e cair no sono.

O certo mesmo é que eu deveria estar estudando, ou escrevendo, ou produzindo alguma coisa. Mas não.

Eu deveria estar mudando de vida. Não exatamente agora, neste instante, porque nada de muito importante me é possível realizar, considerando que já estou de pijamas e já escovei os dentes e agora me debato entre deitar recostada aos travesseiros ou sentar com as costas na parede, para evitar qualquer tentação de fechar os olhos "só por um minuto" e depois não conseguir mais acordá-los.

Eu deveria estar mudando a minha vida. Jogando tudo pro alto, esquecendo desafetos, desavenças, desamores e seguindo em frente. Deveria estar atirando para trás as dores e as perdas e cortando os laços que me prendem em definitivo ao estar aqui e deveria estar dando o primeiro passo para os próximos caminhos.

Eu deveria ao menos saber para que lado ir. Deveria ter uma vaga idéia de qual caminho seguir, que direção tomar, nessa nova liberdade. Eu deveria deixar as pesadas bolas de ferro que ainda arrasto, porque elas só me fazem ficar cansada e sem energia para o que realmente importa, e deveria simplesmente ir.

Eu deveria estar cuidando de mim. Deveria deixar uma parcela do meu altruísmo de lado e deveria desenvolver um pouco mais de egoísmo, assim poderia (deveria) me proteger mais e me resguardar e evitar de me deixar levar por tão pouco, ou de me magoar tão facilmente.

Eu deveria ser menos preocupada com a educação alheia (ou, digamos, a falta de educação alheia, que lhe permite jogar lixo na rua e maltratar animais e destruir o meio ambiente e usar carro em vez de transporte coletivo e usar o bem público para interesses privados e tentar sempre dar uma volta nas regras da coletividade chamando isso de "jeitinho" e encarar essa necessidade de "jeitinho" como uma característica positiva ao invés de assumir seu nome verdadeiro, que é corrupção, e mexer no "meu queijo" e falar bobagens quando deveria calar para ouvir melhor e se deixa imbecilizar ao assistir programas degradantes que não fazem pensar e optar por não pensar porque é mais simples e menos doloroso, entre outras coisas) e mais preocupada com os efeitos diretos disso tudo do mundo para comigo, especificamente. Assim eu poderia ter mais controle sobre a minha vida e o meu destino.

Eu deveria desistir, de uma vez por todas, de lutar com moinhos, gigantescos moinhos desativados, que só existem na minha imaginação. Eu deveria era usar essa imaginação toda para alguma coisa prática e útil. E por isso continuo a pensar que eu agora, neste exato instante, deveria estar escrevendo. Ou estudando. Ou as duas coisas.

Porque eu deveria ter a coragem de abrir mão de uma série de prazeres fugazes e secundários e me concentrar na atividade que me completa e que me realiza. Em vez de ficar tentando achar formas de sustentar esse vício, essa compulsão, eu deveria estar é sucumbindo a ela, entregando me completamente, de alma e sangue, a essa coisa mesquinha e solitária e tão deliciosa que é escrever.

Acontece que me falta o pulo no escuro, o passo no precipício, o avançar frente ao desconhecido. Acontece que eu me importo. Me importo se vejo alguma injustiça no mundo e me agito que ninguém mais se espanta. Me importo e me sinto responsável. Me sinto na obrigação de fazer alguma coisa, de mudar alguma coisa, de dar um soco na cara do mundo pra ver se ele acorda e resolve mudar sozinho, pra me deixar em paz com as minhas próprias necessidades de mudança.

Acontece que eu penso, também, que deveria estar dormindo, uma vez que não estou escrevendo, nem estudando, nem lendo, nem dando um soco no estômago do mundo, nem fazendo nada de exatamente útil ou produtivo. Ao menos, deveria estar descansando, reorganizando os esforços, colocando as idéias no lugar e as vontades em ordem de importância.

Eu deveria estar descansando a mente, desligando dos pensamentos sobre o que poderia estar fazendo ou sobre como seria uma pessoa melhor, ou sobre a maneira ideal de mudar o mundo, ou sobre o quando de sofrimento eu agüento e o quanto eu tenho que abrir mão.

Eu deveria estar deixando isso um pouco de lado, esse "martirismo" desnecessário, e deveria estar me concentrando em um heroísmo saudável, que eu não saberia bem explicar mas que se opõe diametralmente ao martirismo, esse, que sufoca e impede de seguir em frente.

Eu deveria é largar tudo e seguir em frente. Assim não estaria mais, nunca mais como agora estou, preocupada com a hora, com o avançado da hora, tendo que assumir que o hoje que chamo de hoje já é oficialmente ontem, mesmo que eu não tenha ainda ido dormir. Assim não estaria perdendo meu tempo com pensamentos e ações que não me levam a lugar nenhum mas me tomam tempo e espaço e energia, energia e tempo que poderia estar investindo em atividades que me reorganizassem meu espaço, que me pusessem de volta aos eixos, que me fizessem seguir novamente a trilha que sempre imaginei pra mim todos esses anos em que fiquei pensando e sonhando e imaginando quando deveria, certamente, ter ido dormir mais cedo, para acordar mais cedo e aproveitar melhor o dia.

Aí acontece sempre como acontece agora, esta tentativa patética de esticar os minutos, tentar ganhar mais dia do meu dia, quando na verdade eu ganho apenas mais olheiras e mais cansaço e mais minutos de atraso na contabilidade diária.

Ao menos se eu estivesse estudando. como gostaria. Ou escrevendo, como deveria. Ou dormindo, como me faria descansar e ficar pronta pra outra.

Ao menos se eu parasse de vez com essa mania do futuro do pretérito, eu poderia realmente deixar o passado para trás e passaria de subjuntiva para indicativa. E o futuro seria sempre conjugado a partir do presente, que é a ordem certa das coisas.

Mas nem isso eu consigo mais pensar direito, porque já é amanhã, enquanto eu continuo a pensar no que poderia ter feito, ou deveria ter feito ainda ontem e não fiz.

julho 25, 2008

Melhor diálogo random

Do taxista que me levava ao meu destino:

- Porque não adianta a pessoa querer mudar a morfologia do seu destino. Ela tem que ser para o que ela é nascida. Eu nasci pra ser motorista. E estou aqui, trinta e quatro anos sem um acidente sequer. O que a pessoa tem que entender é que o seu livre arbítrio não pode interferir no livre arbítrio do outro, é aí que dá os acidentes.

Fantástico. Virei fã.