setembro 24, 2008

Preguiça

Ou seria apenas a comodidade de falar tudo em apenas um punhado de palavras coroadas por uma bela foto?

Talvez seja preguiça mesmo, mas o fato é que nestes últimos dias eu tenho pensado bem mais na foto do dia do que no texto do blog (que não é de todo o dia mas deveria ser bem mais periódico do que está sendo).

Pode ser preguiça, mas pode ser que seja atucanação* total e completa. Desde que voltei de viagem que tento (em alguns casos inutilmente) colocar em rumo certos vagões descarrilhados, tento (em alguns casos inutilmente) resgatar bagagens e passageiros de vagões que simplesmente saíram dos trilhos em plena ponte se espatifaram precipício abaixo.

Aí que eu passei um tempão olhando vários links e pulando de links em links para descobrir um adorável, cor-de-rosa, que me falou um pouco de assertiveness, e que me lembrou de que se não está me fazendo bem, então tem que ser descartado. Não, não é do blog que estou falando, nem de você, caro leitor ou leitora que me visita sem mesmo às vezes deixar recado, nada disso. Estou falando dessas coisas de resgatar trens e procurar, entre os corpos do gigantesco trainwreck que virou este e aquele aspecto da minha vida, algum objeto que sirva de identificação, de moeda de troca (por algo mais útil no fleamarket emocional mais próximo) e de matéria de grievance&closure emocional.

Então que nisso de pensar assertivamente (viu, eu também sei usar as palavras em português!) na hora me fez decidir por deixar todos os restos e vestígios do que antes existia por lá, no local do acidente, no momento exato do descarrilamento, congelando para sempre no tempo e no espaço (emocional e mental, só para ter certeza que todo mundo entendeu que é metáfora) isso que doeu e que desandou e que poderia ter sido evitado se a manutenção dos trilhos e dos caminhos e, principalemente, das pontes tivesse sido efetuada quando as primeiras faíscas e divergências surgiram.

Seria mais confortável jogar tudo pro ar e deixar que o apodrecimento lento e gradual que é natural do mundo faça sua parte e consiga, de repente, reutilizar qualquer matéria (carbono, nitrogênio, metais, sei lá) lá abandonada transformando-a em algo bom. Como diz uma "comparsa" minha, tudo acaba tendo alguma função, mesmo que seja para virar catarse no papel e, quem sabe, literatura.* *

Acontece que não é tão simples como parece, e o que me mata é que eu me sinto absolutamente, de uma maneira intransferível e irrevogável, responsável por tudo e todos ao meu redor. Transtorno psicológico? Beirando a insanidade total. Mas o que se pode fazer se é assim desde sempre?

Então que, dividida entre a culpa por não querer fazer nada nem mexer em restos mortais e a culpa por sentir o peso da responsabilidade e a obrigação de ir lá limpar o terreno (para, quem sabe, surgir algo melhor, mais bonito, mais funcional e moderno, quase como um GroundZero emocional em reconstrução), fico em cima do muro, fico congelada, sem andar nem sair do lugar. Uma ótima desculpa para a preguiça tomar conta de tudo.

Ah, já que não estou resolvendo as urgências e assuntos maiores, então não tenho que resolver os assuntos menores. Ou então, ah, resolvo este assunto secundário depois que resolver as grandes prioridades do mundo. Que, em alguns casos, não estão sequer sob a minha "jurisdição"***

E assim a mala fica mais um dia sem abrir, as fotos ficam mais um dia sem serem enviadas para a empresa que irá imprimi-las, os livros ficam mais um dia sem serem tirados do caminho (sim, eles estão querendo me sufocar!), as roupas ficam mais um dia amontoadas no armário, as inutilidades ficam mais um dia sem irem para o lixo e os presentes ficam mais um dia sem serem entregues e, bem, a lista é imensa, praticamente sem fim.

Pra piorar a situação, inventei de tomar um café depois de determinada hora (porque eu ando muito sugestionável e influenciável) e não consigo dormir, apesar do cansaço. Aí, bem, insônia e cansaço físico, para mim, resultam em apenas uma coisa****: escrever no blog e desabafar e ver se pode surgir alguma coisa boa de dentro dessa bagunça toda.

(É, sim, vocês descobriram de onde surge ao menos uma coisa: as interminávels olheiras que me deixam com uma aparência de cansada e doentia.)





* Atucanação pode parecer relacionado com tucanos e outras aves narigudas. E de repente esse foi o início do cunho de verbete tão tipicamente gauchesco, mas eu agradeço aos dicionários pelas sempre providenciais explicações.

** E vejam que aqui demonstro ter aprendido alguma coisa, mesmo que bem pequena, nestes quase trinta e seis meses de Oficina. Catarse, ou seja, despejar suas emoções, indiscriminadamente, no papel, é quase tão útil quanto um papel higiênico que foi usado para se assoar o nariz durante uma gripe. Mas, às vezes, é um assoar das narinas que nos faz respirar melhor. E todo mundo sabe que é respirando que se leva o oxigênio ao cérebro, e todo mundo sabe que é o oxigênio o combustível primordial para qualquer idéia ou pensamento ou coisa que o valha. E se todo mundo sabe, eu não preciso nem ficar repetindo nem ficar explicando e perguntando, ãhn bem você entendeu o que eu quis dizer?

*** Só pra não dizer de novo responsabilidade. Mas é pra ser responsabilidade. Até porque eu não me sinto bem usando legal terms on my everyday life. ("I object!" e dou um prêmio para quem me disser a referência desta frase neste exato contexto. Valendo!)

****Ok, duas coisas: escrever no blog e ficar ainda mais cansada no dia seguinte, tornando altas as chances de chegar atrasada no trabalho.

setembro 19, 2008

For SelfPortraitChallenge - Contrasts

I just came back from very interesting vacation abroad, and now that I came back, the buildings and streets I’ve been seeing for at least ten years – and that had become merely background absorbed by my eyes, automatically – have gained a new perspective. Since they stopped being my routine landscape, I can see all their beauty and ugliness, again.

I think contrasting things – old and new, fashion and kitsch, urban and nature – offers us a better opportunity to learn from them. When we put ourselves in a position to question our ideas and point-of-view, the contrast between what we are and what we think we are (or feel we are) can make us grow.

There are very nice contrasting photos this week.

This one is just great. The way she could get the focus of the image through her glasses can offer us a glance of how she usually sees the world without her glasses on.



(see more here)
The second one I chose this week is the shadowy one. Shadows are always a great subject to show contrasts, and to me, she managed to show, in three simple images, how a small difference (the negative and the highlights) can change the entire picture and makes us see more than we could think of.

(see more here)

The third is, for me, the best one to represent what I was trying to say before about how the contrasts can make us better as they force a different perspective on us. It’s the image of a slim figure, of someone who’s lost over a hundred pounds, but deep inside could – yet – change the way she looks over herself. And the contrast of what we see of ourselves and what we really are is always the hard one face. But, also, the most rewarding when conquered.


(see more here)
For more contrasts, check SelfPortraitChallenge. Unfortunatelly I couldn't manage to conect there to post it on SPC. Something with my password and not being able to recover it.
So, I'm sorry everyone, for the inconvenience. I'm trying to fix it.


setembro 13, 2008

Wishing on a star


Quando eu era pequena, sempre que anoitecia procurava com os olhos a primeira estrela do céu, e pensava, estrela estrelinha, a primeira que eu vejo, seja boazinha e realize o meu desejo. E pensava numa coisa que eu gostaria muito que acontecesse e que na hora me parecia impossível, ou ao menos muito difícil.
Não sei se meus desejos se realizavam, ou, se eles se tornavam realidade, era porque tinha sido um pedido meu, obra do acaso ou simplesmente algo que aconteceria independente da minha vontade.
Eu sei que não acredito mais em desejos, em sorte e azar, e em obras do acaso. Não sei se ainda acredito no destino como algo superior e além da vontade individual, quer dizer, tenho consciência de que existem situações pelas quais precisamos passar, por algum aprendizado necessário.
Mas eu acho um absurdo qualquer pessoa não se sentir responsável pelo que acontece na sua vida. Acho um absurdo as pessoas ainda creditarem ao acaso, à sorte, ao azar, ou - pior, muito pior - a outras pessoas a responsabilidade pelo que acontece, para o bem ou para o mal, na sua vida.
Acho medíocre não ter consciência de que cada ato provoca uma reação, principalmente quando somos nós que decidimos nossos atos, e seremos nós a aguentar as consequências.
É certo que não temos como saber, aqui no início da estrada, o que vai acontecer lá no fim. Não temos como saber que efeitos e acontecimentos surgirão a partir de cada escolha que fazemos, de cada caminho que seguimos. Mas é certo que não dá para seguir para a direita E para a esquerda ao mesmo tempo. Não dá para ficar E seguir.
Então escolher é, em sua essência, perder alguma coisa além, deixar de ter o que está atrás da porta número um sem mesmo saber. E, tendo isso em mente, escolhendo mesmo assim, e aceitando as consequências de cada uma dessas escolhas, bem, isso é viver plenamente. Isso é experimentar a vida, com todos os seus lances de sorte ou de revés, sem culpar algo ou alguém.
Hoje eu vejo que algumas escolhas doídas do passado me trouxeram para cá, para onde estou agora, de onde enxergo que aquelas dores momentâneas foram pequenos percalços perto da beleza do caminho que me trouxe até o presente. E vejo que foi a coragem de escolher, mesmo doendo, que me fez crescer, que me fez perceber como a minha vida é só minha, e se eu sou mais ou menos triste, ou, mais ou menos feliz é porque eu construí essa realidade.
E ainda hoje eu corro para o céu sempre que anoitece, à procura da primeira estrela. Mas não mais para fazer algum pedido. E sim pela beleza da noite, e pela alegria de apreciar o belo, sem expectativas. Porque não há expectativas quando se tem o controle da sua própria vida.
(foto publicada primeiramente em ImagemporDia)

setembro 12, 2008

Invandindo São Paulo

Para quem ainda não conhece o Inventário das Delicadezas, e mora em São Paulo, fica o convite.



Dia 19 de setembro, na Livraria da Vila, na Vila Madalena, das 18:30 às 21:30. Os autores Daniela Langer, Leila de Souza Teixeira, Emir Ross, Luiz Ohlson, e esta que vos escreve estarão à disposição para bate-papo, fotos e autógrafos.



Abaixo o convite oficial e o release. Convidem os amigos. Apareçam!







Depois do imenso sucesso do Inventario das Delicadezas, com sua estratégia inovadora de divulgação, chega agora a vez de São Paulo receber os autores do livro Inventário das Delicadezas para um bate-papo seguido de uma sessão de autógrafos.

Será na Livraria da Vila, na Vila Madalena (Rua Fradique Coutinho, 915), das 18:30 às 21:30. Com organização de Charles Kiefer, que apresenta os autores e seus contos dizendo que "Inventário das Delicadezas é também um inventário das formas possíveis de se enfrentar esse gênero tão complexo, tão delicado e tão perigoso que é o conto", o livro é a realização de um projeto de autores iniciantes que reuniram com o intuito de publicar os melhores contos produzidos nas aulas da Oficina Literária ministrada por Kiefer.

A idéia ganhou fôlego e depois de um ano de trabalho, com leituras, releituras e correções dos textos, finalmente materializou-se nesta antologia, que retratam a visão de mundo ou a imaginação de cada autor. A ditatura militar, o futebol, o primeiro amor, as lembranças de infância e até mesmo as peripécias da vida noturna viraram personagens principais de histórias envolventes e sedutoras.

setembro 07, 2008

Aos poucos

Aos poucos as coisas se ajeitam.

Hoje, por exemplo, consegui terminar de organizar as fotos para o Imagempordia. Devo confessar que foi uma tarefa árdua, uma vez que cada dia merecia bem mais que uma foto apenas. Mas o projeto não era "as fotos mais lindas do dia", então escolhi apenas uma para postar.

As outras serão colocadas lá no europa080808 e eventualmente em álbuns virtuais (ver link aqui ao lado) ou pelo Orkut.

Ainda tem mais algumas coisas a serem feitas, como o scrapbook com todos os panfletos e folders e bilhetinhos e coisinhas fofas que coletamos ao longo desses dias de férias. Falta um pouquinho ainda.

Enquanto isso, dá pra ter uma idéia da viagem nas fotos escolhidas para o Imagempordia:

Foto 101 Foto 102 Foto 103 Foto 104 Foto 105 Foto 106 Foto 107 Foto 108 Foto 109 Foto 110 Foto 111 Foto 112 Foto 113 Foto 114 Foto 115 Foto 116 Foto 117 Foto 118 Foto 119 Foto 120 Foto 121 Foto 122 Foto 123

setembro 04, 2008

Voltando ao normal

Ontem fui convidada de última hora a participar do Desaforadas. O tema era Mentiras, e eu poderia desenrolar milhares e milhares de histórias de mentiras que me foram contadas, e que eu vi serem contadas, desde as mais antigas até algumas bem recentes.

Pena que a Verônica, quem me convidou, precisava do texto na hora. Senão teria com certeza parado tudo para escrever pro blog.

Se bem que foi até bom que ela não pudesse esperar, acho que se tivesse começado, especificamente ontem, a falar sobre mentiras e como isso pode magoar e modificar os rumos da vida de uma pessoa, de repente faltaria espaço no blog. Arriscaria ficar meio chato, até.

Enfim. Fica pra próxima.

Ainda tenho que responder ao selo recebido do Defenestrar-te-ei, que recebi da Dani e da Pam.

Ainda tenho que organizar as fotos.

Ainda tenho que entregar as lembrancinhas.

Ainda tenho que lidar com o fato de que o meu país não é um lugar seguro, não é um lugar limpo, não é um lugar justo, não é um lugar onde eu me sinto tranquila e bem. Talvez apenas por enquanto. Quem sabe. Infelizmente.

Ainda tenho que lidar com o fato de que o mundo não é como eu gostaria, e minha vida não está sendo como eu imaginava. Mas vai ficar.

Mas agora, já, neste momento, eu tenho que sair correndo pra encontrar duas fofuras de quem estou morrendo de saudade.

setembro 02, 2008

A difícil realidade.

É muito muito muito ruim voltar.

Ainda mais quando a viagem é boa, os lugares são lindos, a cerveja é gostosa, a companhia é ótima, o tempo está bom e as coisas que se vê e se faz são tão legais.

É muito muito muito ruim voltar.

Ainda mais num dia como hoje, em que o sapato machucou meu pé, as pessoas não saíam do caminho, o motorista do ônibus resolveu esquecer a vida e andar bem devagarinho, o café não ficou bom, a consulta - que me fez correr pela cidade com o calcanhar em bolhas - não estava nem marcada, a unha quebrou, and so on.

Vontade de passear e não ouvir as fofocas e intrigas que as pessoas falam pelos celulares em lugares públicos, como se estivessem sozinhas no mundo. Vontade de não entender a língua e de ter um metrô que toca musiquinha de videogame. Vontade de passear um dia inteiro e poder escolher entre ir nos banhos públicos e caminhar pela cidade à noite.

Não é tanto estar Lost in Translation como estar perdida no Homecoming.

Fazer o quê, né.