agosto 26, 2009

Cinema

As delícias e as agruras de se estar durante mais ou menos duas horas presa em uma sala escura com pessoas desconhecidas sem saber o que vai acontecer ou qual o desenrolar da história! Como eu amo e me sinto ao mesmo tempo angustiada por ir ao cinema.

Amo pelas histórias fantásticas, pelas pequenas epifanias, pelas belas imagens, pelos diálogos que me arrepiam a pele. Ok, não é sempre assim, mas as vezes em que isso acontece salvam todas as outras vezes em que isso não acontece.

Em tempo: se Glorinha Kalil estivesse na sessão de Tempos de Paz que eu fui, viraria para a câmera do Fantástico e diria que não se conversa durante a exibição do filme, sob hipótese alguma, mas principalmente se você está querendo conquistar a menina que conheceu pela internet e está vendo ao vivo pela primeira vez. E, continuaria Glorinha Kalil, jamais (veja, ela diria JAMAIS!) se bate palmas no final da sessão. Ela completaria que se você gostou do filme pode sempre mandar um email ou uma carta para o diretor, para os atores, e explicaria que bater palmas é uma homenagem para performances ao vivo, como no teatro ou num show. E repetiria que jamais mesmo se bate palmas no cinema.

Mas a pessoa que não leu, no livro de etiqueta, o parágrafo que fala sobre não conversar durante a exibição do filme provavelmente pulou o capítulo inteiro e não aprendeu sobre bater palmas. Nem leu a observação de que é como depois do Hino Nacional, nunca jamais, nem numa apresentação ao vivo, se bate palma.

Enfim, nem todo mundo sabe ler, mas não é esse o assunto. O filme é muito bom. É bem parecido com o Náufrago no Aeroporto, que é como eu chamaria o filme antes de espiar no IMDB. Inclusive o ator é o mesmo, com o mesmo ar meio abobalhado, mas com bem mais conteúdo.

O Tony Ramos é um excelente ator, com uma quantidade infinita de criar trejeitos e idiossincrasias para os personagens que interpreta, o que torna a história ainda mais densa. Ele é um fiscal da alfândega, mais ou menos na anistia de 1945, e fica no dilema de fazer seu trabalho, que é controlar os imigrantes, e obedecer à nova ordem e às novas regras, que é deixar o rigor de lado e as regras de guerra. O mote é justamente esse: ele foi treinado para os tempos de guerra, e agora que são tempos de paz não sabe o que fazer. Enquanto que o Dan Stulbach faz o papel do imigrante, que por ter vivenciado a guerra não sabe mais o seu papel como indivíduo no mundo.

O filme tem uma reviravolta que o Náufrago do Aeroporto não tem, o que lhe confere uma integridade e densidade e beleza, mesmo não tendo a Catherine Zeta-Jones no elenco.







A única coisa que me incomoda um pouco é a tentativa Woody-Alleniana do diretor, Daniel Filho, de aparecer e participar da história. Sim, a personagem que ele interpreta é importante, mas qualquer outro ator poderia fazer tão bem quanto ele. Ou de repente até melhor. Até porque o diferencial do Woody Allen é que ele nunca almeja ser alguém mais que ele próprio, só que no telão. E por isso o Daniel Filho perde pontos.

Ainda assim, no cálculo de prós e contras, o filme vale a pena de ser assistido. Desde que as pessoas que se sentarem com você na sala de cinema tenham o mínimo de educação e deixem as conversas awkward de primeiro encontro para o momento depois do filme.

5 comentários:

Vica disse...

Isso era uma peça de teatro: Novas Diretrizes em Tempos de Paz. Vi no São Pedro, só o Tony Ramos e o Dan no palco. Fantástico. Tenho medo de ver o filme e ele estragar a impressão que fiquei da peça.

Cris Moreira disse...

Oi Vica!!!

Que legal, sobre a peça, mas de repente valha a pena vc ir, porque não tem mta cara de peça-para-cinema, , e justamente o ponto positivo é a forma com que a história se desenrola muito tranquilamente.

BJs

dani langer disse...

na real, acho que o problema de bater palmas no cinema não é falta de educação - ou quebra das regras de etiqueta. é diferente de bater palmas para no final do Hino, por exemplo. só é ridículo. tu passou foi por um super momento de vergonha alheia! hahahahaha

agora, estou aqui pensando...(momento hippie mood on) até para o pôr-do-sol se bate palmas, né. que coisa (em Ipanema, no Arpoador e em Piriápolia, ao menos, faz parte da etiqueta bater palmas para o sol depois que ele desce para o Japão...ahahahahha).

Cris Moreira disse...

Sim, sim, as pessoas batem palmas aleatoriamente e sem critérios!

Eu ainda morro de vergonha alheia, ai meus sais!

Bjs

AdriB. disse...

Não consigo imaginar alguém batendo palmas em um cinemas. Vai além da minha capacidade.

Atiçou minha curiosidade. Já botei ele na listinha de Quero ver.