Hoje pela manhã, ao sair pro trabalho, encontrei, no portão de casa, uma formiga carregando uma pena. Normalmente as formigas carregam folhas, migalhas, restos em geral. Eu nunca tinha visto uma formiga carregando uma pena, e a imagem me comoveu.
Existiria uma imagem, caso eu não estivesse atrasadíssima para um curso, workwise. Acordei e me arrumei no horário normal, de todos os dias (que já é muito cedo), mas hoje precisaria estar no local do curso uma hora antes do meu horário de trabalho, o que faze tudo ser extremamente cedo.
Aí que eu só me dei conta do compromisso (acertado no fim da tarde do dia anterior, diga-se de passagem) quando já estava descendo as escadas, com a chave na mão, antes de chegar ao portão. E ao ver a cena inusitada, hesitei por um milésimo de segundo entre a foto do dia e alguns minutos a mais de atraso.
Acontece que eu ficaria ali mais de alguns minutos, eu sei, primeiro porque gosto de testar vários ângulos para a mesma imagem, até achar a que me agrada, e segundo porque as formigas se movem muito muito rapidamente, e poderia levar algum tempo até acertar o foco com uma micromilésima pausa no caminho do pequeno inseto.
A pena não era grande, não chegava nem perto das cinquenta vezes o seu peso que a formiga consegue carregar. Era obviamente uma pena de pombo, animal que me provoca ojeriza (uma amiga disse, uma vez, que são como ratos com asas. Não sei se a frase é dela, mas é sábia), mas a pena sendo carregada delicadamente pela formiguinha chegava até a ser bela.
No momento em que saí pelo portão e deixei a foto perdida para trás, já me arrependi. Na minha escala de prioridades, ficou estabelecido, naquele instante, que a foto é mais importante para mim do que o trabalho (bem, do que esse trabalho específico, que fique bem claro, porque é um emprego que não me proporciona desafios nem muito aprendizado nem possiblidade de criação. É divertido, na maior parte do tempo, é verdade, mas não é muito legal no geral) e, naquele momento, decidi erroneamente a respeito de qual caminho seguir (ficar e ficar com a foto e sair correndo e, ainda assim, estar atrasada).
Essa foi a última vez que tomei a decisão errada.
Porque uma coisa é interessante quanto às prioridades. No momento em que elas surgem, ou, se estabelecem, ou, são estabelecidas, não há como fugir. É como a trilha das formigas pelo pátio, não há como elas fugirem dali.
(Mais tarde, ao chegar em casa, tentei achar alguma outra formiga carregando alguma outra coisa, dessas que as formigas normalmente carregam que não são tão bonitas como uma pequena pena, mas estava chovendo, e as formigas - espertas - entendem os momentos antes da chuva e correm para os seus ninhos, e só voltam com o sol. Mas algumas delas estava ainda correndo para casa, como pode ser visto aqui, e uma outra, agora há pouco, estava bem perdida entre a lareira e a escada. Não ficou muito perfeito, porque elas são muito pequenas, mesmo para o supermacro da minha câmera, e são muito rápidas, mas dá pra entender o que é.)