janeiro 21, 2009

Yes we can.

Esqueça as bandeiras listradas em azul e branco. Esqueça que ele fala inglês. Esqueça que ele fala do país dele como se fosse o continente inteiro. Esqueça tudo isso e ouça.





O discurso linkado acima foi proferido no dia 05 de novembro de 2008, o dia em que se anunciou que ele havia ganho a eleição em que o mundo inteiro prestava atenção. O discurso linkado acima me arrepiou de emoção, de tão lindo, de tão instigante, de tão profundamente sincero e realista.

Sugiro, para quem não quer assistir aos 17 minutos, que vá direto ao minuto 10. É por aí, depois de todos os devidos agradecimentos, que ele fala sobre o esforço que será necessário para reconstruir seu país e, por consequência, impactar positivamente na história do mundo.

Aqui eu abro um parênteses. Não, eu não acho que os EUA sejam a melhor nação do mundo, nem o melhor povo do mundo, nem tenham as melhores condições de vida. Mas eles são bons no que fazem. Eles, o povo, são organizados, práticos e buscam a eficiência de praticamente tudo. E é admirável quando um cidadão que foi alçado ao posto de liderança consiga enxergar as pessoas no que elas têm de bom e no que elas têm de ruim, e ainda assim conseguem arrebatar as atenções e a iniciativa de toda a nação em prol do que acredita ser o melhor a ser feito, e isso não apenas porque vai ser melhor para todos no fim das contas, mas porque pode, com isso, fazer o mundo melhor.

Mas, voltando.

O que eu achei bonito, em primeiro lugar, foi ele deixar claro, desde o início que a divisão havia entre partidos enquanto havia a campanha, mas que no momento do resultado a nação volta a ser uma só, e ele se propõe a ser o governante de todos, mesmo daqueles que não votaram nele ou que não concordarão com as suas decisões. Porque, a partir do momento do resultado, existe o Governo, acima de qualquer picuinha pessoal ou partidária que poderia haver, que deve agir tendo em mente o bem-estar de todos, e não favores e benefícios individuais.

O que eu achei inteligente foi ele falar que aquele momento não era apenas de vitória (porque tanto um como outro estariam ali, e os problemas teriam que ser enfrentados por um ou por outro, independente de ser ele ou o outro) mas sim de oportunidade. A vitória não se resumia ao fato de ele estar ali discursando como futuro presidente da nação, mas sim se abria no leque de oportunidades que eles todos, como um povo unido, teriam de reconstruir o presente, de corrigir os erros do passado, de modelar o futuro. Lembram de um episódio de Caverna do Dragão, em que a mensagem do Mestre dos Magos (que, sim, era o demônio que prendia os meninos no limbo) era que o destino de um era compartilhado por todos. E parece que ele deve ter assistido a esse episódio, porque sua mensagem fala justamente sobre isso. Sobre a importância de todos participarem dessa construção em conjunto.

O que eu achei lindo foi ele ter falado que os ideais que ajudaram a fundar seu país ainda estão lá, apesar de disfarçados por entre as notícias de grandes fortunas e bolhas estouradas e escondidas atrás de falácias de politicagem e atitudes impensadas. Os ideais, quando existem, sobrevivem às crises, servem de backup para que as pessoas se lembrem do seu propósito, do seu destino, da sua missão como indivíduos interligados por esses fios emaranhados e de caminhos tortuosos a que chamamos sociedade. E aqui abro um grande parênteses. Para lembrar um pouco de qual bandeira tremula atrás dele, que não é a do meu país. E ficar triste por isso. Porque, por mais errados e narrow-minded que possam eles ser como povo, eles têm ideais,muito mais profundos que a gente possa imaginar, e num patamar de crença e impregnação que nós, brasileiros, não temos. E que, sim, deveríamos ter, mas que nós, como nação (e quando eu digo isso, estou me referindo ao tempo em que deixamos de ser colônia para sermos governados por nós mesmo, de uma maneira única e própria, possível apenas nas condições de cultura e sociedade e universo de costumes compartilhados encontradas aqui) não temos, e, pior, ainda ridicularizamos e esnobamos como se melhores fôssemos apenas porque somos fruto de uma mistura única de tudo e qualquer coisa, uma generalidade, uma variedade, uma "brasilidade" indefinida que abre margem para "jeitinhos" e mensalões.

Mas, voltemos ao discurso. De temos em tempos ele repete, yes we can. Como um canto, um mantra, uma oração. Yes we can. Não dizendo "eu posso", ou "eu vou", ou "olhem como eu brilho e sou o máximo por ter chegado aqui, apesar de todas as condições contrárias". Ele diz, nós podemos. Apenas juntos podemos. O caminho será longo e árduo para a mudança, mas nós podemos, é a mensagem. E é linda.

Porque é sincera e realista. E consciente de que nada se constrói no mundo sem acreditar na possibilidade. E nada se constrói no mundo sem haver um princípio, um ideal. E nada, absolutamente nada, que exista para durar é construído com o esforço de somente um homem. Não existem salvadores da pátria. Existem líderes. E líderes servem para apontar a direção e abrir o caminho para a nação, porque é apenas o empenho de toda a população que constrói qualquer coisa de durável, de belo. E é apenas o empenho de um povo unido que constrói uma nação.

(E, falando sem rancores ou preferências, e de um sentimento de orgulho nacional, acredito que poderíamos crescer muito, nós, brasileiros, como uma nação, se aprendêssemos um pouco desse sentimento todo a que me refiro.)

Um comentário:

Melissa Barbosa disse...

concordo com cada vírgula. infelizmente nossos preconceitos bobos nos impedem de aprender com outros povos.