janeiro 19, 2009

100% das conversas

Tempos atrás minha irmã e eu estávamos conversando sobre as conversas de que não participamos.

Eu, por exemplo, não assisto ao Faustão no domingo. E muitas vezes nem ao Fantástico. Então, na segunda-feira, não participo de, aproximadamente, 50% das conversas. Aí, eu não costumo assistir a novela e daí acabo ficando de fora de mais uns 30% das conversas.

Quando é época de futebol, então, aí eu tenho que me contentar em falar do tempo, do trânsito, ou de alguma outra coisa.

Nem o jornal eu tenho lido ultimamente (o que é horrível, eu sei, mas há coisas mais urgentes, para mim, neste momento), então fiquei sem saber que um cara pousou no Hudson congelante e fiquei sem saber todas as outras coisas. Eu fiquei sabendo sobre o cara que forjou a própria morte, que preparou uma moto e que jogou o próprio avião num campo e que foi pego numa câmera de segurança de um motel em beira de estrada.

Mas aí eu penso, como é que eu vou falar com o meu colega de trabalho sobre a dificuldade que foi ler Bioy Casares na beira da praia. Não que Bioy Casares seja ruim, mas é que o clima de beira de praia (com sol e conversas e todas as distrações possíveis) não combina sabe. Ou então com a velhinha-do-ônibus, aquela uma que começa a falar do tempo e depois fica contando toda a vida desde quando veio ainda nova lá de São Borja (ou de Alegrete, ou de Uruguaiana, é sempre assim uma cidade beeeeeeeem do interior) pra estudar e daí virou professora e casou e criou os filhos que a abandonaram e a história segue. Como é que eu vou participar de uma conversa como essas se até pouco tempo atrás não sabia onde ficava São Borja ou Itaqui.

Então que é impossível participar de todas as conversas. Principalmente as mais corriqueiras. Essas que abordam os assuntos mais comuns. Porque, querendo ou não, se a gente for parar pra reparar, as conversas "small-talk" (e não confunda com Small Talk, com a marca registrada e tudo, com Smalltalk) giram sempre em torno da programação da tevê, dos esportes, da novela.

O pior de tudo são as conversas que ficam entre 10 e 20% das quais eu não participo. Essas são das pessoas que assistiram ao Pânico na Tevê na noite anterior e querem dividir os horrores que fazem aqueles apresentadores bastante mal-educados e, muitas vezes, grosseiros. Mas daí, desse percentual eu faço questão de ficar de fora.

8 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, Cris
E ainda tem aquelas mães que acham que os filhos delas são um assunto interessante para ocupar uma tarde inteira. E as mulheres que só abrem a boca pra falar no marido maravilhoso que conseguiram.
E assim mesmo a gente ainda fica quebrando a cabeça pra encontrar um assunto original para escrever.
Coisas de escritor.
Inté
Ademir

Anônimo disse...

Poucas vezes me identifiquei tanto com um post como esse. Eu me sinto quase culpada por não compartilhar da futilidade das pessoas - e frequentemente sou discriminada por isso.
Ah sim, não sei se vc curte Big Brother - pq vc não citou - mas nessa época o percentual de conversas em que não participo aumenta consideravelmente.

Abraço!

Lilian

Cris Moreira disse...

Bah, eu tinha esquecido das mães com os filhos-mais-lindos-do-mundo!

Tem o Big Brother e tanta outra coisa que eu não citei, a lista é longa!

Mas ainda bem que, pelas respostas, não estou sozinha. De repente a gente se une e cria um espaço para conversar sobre qualquer outra coisa, o que vcs acham?

Vica disse...

Hoje conversei com um amigo e ele me disse que anda tão difícil conversar com alguém? Porque ou o assunto é novela, ou BBB, ou futebol... ninguém merece.

Anônimo disse...

Cris,
Eu me contentaria em participar de 10% das conversas que me interessam. Ficar de fora destas é que me aborrece.
Um beijo,
Leo

Cris Moreira disse...

Puxa vida, será que eu consegui reunir uma parte das pessoas que gostam de conversar sobre qualquer outra coisa além de futebol, novela, BBB?

Que bom, ao menos sabemos que podemos contar uns com os outros na hora de conversas interessantes e variadas!

Será que um encontro ao vido é muito difícil?

isabel alix disse...

É por isso que quase não converso com ninguém. O que a maioria das pessoas tem a dizer não me interessa. Sim, eu sou antipática e antissocial, agora com duplo "ss", para o nosso pesar. E misantropa. E chata. E ruim.
Ninguém vem me contar do Bioy Casares, isso sim, um assunto interessante, junto com o Bongo Salvador da Vica e outros queijandos. Porque não sei quem é Bioy Casares. Quem é esse senhor? Sobre o que ele escreve?
Taí, ó. Vamos nos encontrar pra eu poder exercer uma exceção à misantropia, à antipatia e ao viver antissocial?

Melissa Barbosa disse...

uehauhahe, tb passo por isso. mas felizmente no jornal geralmente as conversas são sobre as matérias e outras bizarrices da cidade, então digamos que lá em particcipo de tipo 90% (pq seeempre tem quem goste de BBB e afins)