Com sono, mas talentosa. Estava até agora montando as metáforas, para entregar na festa do meu aniversário. Aliás, poucos leitores, já estão todos convidados. Aguardem confirmação por email.
E estou agora, depois de um dia corridíssimo, atarefadíssimo, insone, tentando escrever exatamente o que eu tinha pensado quando estava ali arrumando meus livros. É que assim: tem um livro que acabei de ler e que amei tanto tanto que coloquei na lista do Plano Cris de Leitura de Verão, para ler de novo. São poucos, os livros, que, mal terminados, me dão uma vontade incontrolável de ler de novo. Mas esse fez isso, me deu coceirinha de ler de novo, de tentar encontrar mais idéias e imagens nas entrelinhas. Pois bem, estava há semanas procurando o livro. Estava quebrando a cabeça pra me lembrar para quem tinha emprestado o meu exemplar amado (sim, e isso já considerando que estava quebrando a minha própria regra de terminantemente não emprestar livros, sob hipótese alguma, mas vá lá que era um dia de coração mole e alguém tinha me contado uma história triste e enfim, havia emprestado e esquecido...), havia olhado em todos os cantos, em todas as pilhas (de livros espalhados pelo quarto, pela casa), em todas as prateleiras. Juro que olhei em todas as prateleiras. E não achei.
Já tinha decidido que não ia mais procurar, definido esperar que o destino o trouxesse de volta (ou a memória voltasse e eu pudesse encontrar o esconderijo secreto dele) para mim pelos mesmos caminhos tortuosos e estranhos que haviam o levado embora. Já tinha encerrado o assunto e seguido em frente.
Até que hoje cheguei em casa com o ímpeto da arrumação. Se não fosse tão tarde, teria tirado todas as roupas do armário, como já fiz uma vez, e ficaria ali experimentando e decidindo quais peças ficam e quais peças seguem seus caminhos, e não sossegaria (nem dormiria, como já aconteceu anteriormente) enquanto não estivesse tudo arrumado. Mas já era meio tarde, estava cansada, com sede e precisava achar uma parte importante do processo de transformação das coisinhas em metáforas. Pois bem. Fiquei ali entretida procurando, remexendo, e não me aguentei. Baixei todos os livros da minha prateleira, tirei todo o conteúdo de um espaço da mesa e joguei fora várias caixas e papéis inúteis, e reorganizei os livros. Não todos como gostaria, mas ao menos daquele canto. Separei por lidos-não lidos, por teóricos-ficcionais, por gosto muito- gosto pouco. Entretanto achei o que precisava (eheheh, no outro quarto, numa caixa nada a ver com o assunto, mas enfim, achei. O que comprova que realmente existe ordem no caos. Mesmo sendo o meu Chaos, muitas vezes incompreensível, indecifrável) e, surpresa!, achei o livro-amado-dado-como-perdido!!
E achei, muito estranhamente, na prateleira de baixo do móvel ao lado da minha cama. Não sei dizer se ele estava o tempo todo ali e eu apenas estava cega para ele, mesmo procurando intensamente. Até porque às vezes me parece que os seres que habitam a realidade paralela invadem a nossa realidade para pegar objetos e levarem embora, ou para mudar as coisas de lugar, só para atazanarem os que ficam deste lado de cá e rirem às nossas custas.
Não sei se foi o caso, e se foi, agradeço imensamente a devolução do livro inteiro e intacto, mas é estranho pensar que ele estava ali, ao meu lado, o tempo todo. Apenas silencioso e paciente, esperando que eu mudasse o foco do olhar e passasse a vê-lo de novo. E aí só consigo pensar que, na maioria das vezes, na vida, procuramos exaustivamente por aquilo que nos falta - livros, amor, paz de espírito, o que for o objeto de desejo ou necessidade - e corremos o mundo em busca da Arca Perdida para perceber (e essa percepção só vem depois de parar, respirar e deixar pra lá, uma vez que não seremos seres incompletos sem tal tesouro) que ela estava lá o tempo todo, bastava olhar com outros olhos*.
O que me permite concluir que tudo, praticamente tudo na vida, é uma questão de olhar. De perspectiva do olhar.
E tudo isso pra dizer que as soluções que tenho enxergado, nos últimos dias, para algumas das atormentações com que tenho de lidar são as mais simples possíveis, as que estavam mais ao alcance da mão do que eu esperava. E ainda assim são as melhores!
* A menos, é claro, que você seja um ser um tanto perturbado, paranóico e disposto a tudo para arrumar, como dizem, sarna para se coçar. Porque aí sempre se encontra, sabe, uma vez que toda gota de água é oceano, fica bem fácil. Mas aí, nesses casos, uma simples mudança de foco não adianta. O que adianta é procurar um médico, tomar remedinhos, regular a química do cérebro e deixar os outros em paz.
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