setembro 19, 2007

Descuido

Ando descuidada de mim. Ando desleixada, despreocupada, eu diria. Distraída de certos detalhes, que eu prezava tanto em outros tempo.

Ando sem tempo, na verdade. Agora mesmo, por exemplo, acabei de pintar as unhas. Acordei cedo, tomei banho, respondi emails, cobrei algumas respostas, depois fui ser pessoa-séria-que-trabalha-com-carteira-assinada por algumas horas - sem desgrudar, é claro, do computador, e das caixas de email esperando as respostas que preciso. Aí tive que lidar com uma falta de luz por horas. Aí brinquei de assessora de imprensa. Aí, quando a luz voltou, voltei a ser a pessoa-séria que ajuda os descuidados a cuidar de sua vida. E quando se achava que o dia já tinha encerrado, que nada, fui até a gráfica para buscar O Livro. O Um Livro. O #1 mesmo, ainda quente do forno. Tudo isso com o telefone na mão, entre guarda-chuvas, materiais, sacolas, agenda. E, quando cheguei em casa, ainda tive mais atividades relacionadas ao livro, como separar o material de todos para a divulgação, preencher alguns postais para mandar amanhã, escrever alguns emails, brincar de assessora de imprensa mais um pouco.

Só agora deu tempo de arrumar minhas unhas. Alguns breves minutos para lixa, base e esmalte. E nada de esperar secar, que foi pra isso que inventaram o super-spray secante. Minha tia diz que já estou viciada, mas o negócio funciona, sabe, e eu amo quando as coisas funcionam. Como agora, que meu som está de novo funcionando, depois de um pequeno surto de mudez. Como agora, que meu computador resolveu colaborar.

Ainda tenho que tirar a minha foto de bathroom para o SelfPortraitChallenge. Ainda tenho que ir atrás de um carimbo de números. E plásticos. E imprimir o release para ir junto com o livro. Ah, sim, claro, pra isso tem que buscar o livro. Pra isso ele precisa estar colado, e nisso a gráfica não está funcionando muito bem...

E ainda tive tempo de arrumar minha mesa, me livrar de uns papéis e coisas desnecessárias e fazer algumas ligações para convidar as pessoas para o lançamento.

Tudo isso sem parar. Tudo isso sem tempo pra respirar, para pensar em mim, para esticar as costas feito gato para relaxar os músculos e estar pronta pra mais atividades. Tudo isso sem conseguir calmamente me olhar no espelho e dar um jeito no cabelo, preso desajeitadamente com elásticos, dois micro rabos-de-cavalo, meus finos fios espetados pra todos os lados, a franja caindo nos olhos.

Tudo isso contente. Realizada. Cansada sim, bagunçada e muito. Mas contente. Descuidada de mim mas de olho no futuro. Desatenta de mim mas bem perto do que me faz bem.

E não, não estou reclamando. É disso que eu gosto, estar no olho do furacão. Ontem mesmo estava escrevendo na agenda que era o momento de calma antes do próximo passo, o momento de calmaria antes da próxima tempestade. O segundo para respirar entre uma braçada e outra e mais uma volta na piscina (inevitáveis os comparativos esportivos meio clichês).

Posso até ser maratonista, de agüentar a jornada e ainda sorrir ao cruzar a reta final, mas às vezes é bom correr os 100 metros, só pra não perder o hábito da velocidade, só pra saber que ainda posso. Mesmo chegando descabelada e com olheiras do lado de lá da reta final.

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