agosto 29, 2007

Porque os absurdos nunca deixam de existir

(Resumo da notícia pra quem não tem tempo de ler mas quer apoiar: o que está acontecendo no Wikipedia Brasil é que se você não é o Paulo Coelho ou o Jota Quest, você não tem notoriedade suficiente para constar na enciclopédia, que está sendo mediada/controlada/podada por administradores/censores sem a mínima consciência de que o mundo pode ser maior do que o bairro deles. Enfim. Estou indignada. Revoltada. E acima de tudo disposta a defender o direito de qualquer um, seja o Paulo Coelho, seja eu, seja o ambulante da esquina, de dizer o que pensam e mostrarem ao que vieram, pelo simples fato de existirem. É aquela coisa, posso até não concordar com a tua opinião, mas vou defender até o fim o teu direito de tê-la.

Para quem tem paciência, vale a pena ler até o fim. Para quem, como eu, também é contra boicotes e censuras, ainda mais na internet e tem um perfil no Wikipedia, vale a pena entar lá e votar que sim, que o livro é relevante só pelo fato de ser livro, de ser texto, de existir. Ufa
!)

Copiado de Dani Langer, outra autora boicotada:

Ray Bradbury, em Fahrenheit 451 conta a história de um lugar onde os bombeiros não apagam incêndios. Eles incitam o fogo, para que o fogo queime livros. Numa sociedade que possui a aparência da felicidade em seu nível mais alto, a informação trivial é boa e o conhecimento e idéias são ruins. O Capitão dos bombeiros Beatty explica desta maneira, "Dê as pessoas competições onde eles ganham ao se lembrarem das letras das canções mais populares.... Não lhes dê a droga da filosofia ou sociologia que une tudo. Isso trás melancolia."

O livro de Bradbury se tornou um clássico pela assustadora e melancólica visão do futuro. Na internet, esse futuro está virando presente. Como não existe "a temperatura na qual os pixels pegam fogo", os moderadores de algumas comunidades virtuais, que se dizem livres - os atuais bombeiros da rede - abusam do direito de apagar, suspender, deletar, ou seja, incinerar assuntos que fujam daquilo que julguem pertinente. Isso está acontecendo na Wikipedia, "a maior enciclopedia livre" da web. Abaixo, transcrevo o manifesto "A falácia da liberdade do Wikipédia".
Esse manifesto está correndo o mundo virtual, real e qualquer mundo que possa existir. Leia, e se concordar que ninguém tem o direito de boicotar a livre expressão, por pura ideologia ou "gosto pessoal", divulgue.

A falácia da liberdade do Wikipédia

Tentando driblar os custos de uma publicação independente, os autores do Inventário das Delicadezas – antologia de contos de alunos da Oficina Literária do escritor Charles Kiefer - criaram uma estratégia de pré-venda que, além de bonita e criativa, é vantajosa para o leitor que queira pagar menos que o preço de capa.

Até aqui você leu o início do release de divulgação do tal livro, e vai perguntar, ok, o que isso tem a ver com o Wikipedia, a maior enciclopédia supostamente aberta a colaborações e inclusões com a livre participação de seus leitores. Explica-se: no dia 27 de agosto, procurando novas formas de divulgar o livro da qual participa, uma das autoras criou um perfil no Wikipedia Brasil e incluiu lá dois artigos, relacionados entre si. Um, chamado Vinte Pilas, com referência ao preço de venda do livro mais os postais antes do lançamento, já devidamente excluído pelo comitê de administradores, e o outro chamado Inventário das Delicadezas - falando do projeto do livro, de como os autores vêm trabalhando seus textos há meses e agora finalmente
conseguem, de forma independente, publicar - que está sob avaliação do tal comitê, composto de pessoas que já excluiram diversos artigos sobre artistas e bandas que julgaram irrelevantes por não serem conhecidos.

O que torna um artigo, um assunto, uma banda, um livro, qualquer coisa, relevante? E quem tem o direito de estipular os critérios dessa definição? Considerando-se que não estamos falando de nenhum dicionário de verbetes de um grupo social definido por sua profissão, como médicos ou advogados, em que a especificidade e a relevância são fáceis de definir, na web – no espaço democrático, anárquico e auto-governante que é a web – tentar criar parâmetros e limitações ao que é importante ou não, é, no mínimo, ridículo. Afinal, como é que um professor aposentado, que lê os clássicos e escuta jazz, só para criar um exemplo, poderá dizer qual banda local de rock é relevante para o restante da população? Como é que alguém pode avaliar estando de fora?

Como é que alguém se permite o direito de excluir um artigo do Wikipedia apenas porque não conhece o músico ou nunca ouviu falar dos escritores? Quanto ao artigo intitulado Vinte Pilas (em que a primeira definição era "gíria gaúcha para vinte reais"), sua exclusão da enciclopédia dita livre foi correta, uma vez que o banco de dados ali não se presta a divulgações comerciais, mas é certo colocar em votação passível de exclusão um artigo referente a um livro de novos e promissores escritores apenas porque "carece de notoriedade", conforme explicou o moderador (censor?) Dguy, na justificativa para querer a exclusão do artigo do site em que, conforme o próprio slogan diz, todos podem participar e colaborar.

Se você que está lendo isto agora acredita no direito de estar presente na maior enciclopédia ativa do mundo, talvez não pela notoriedade mas sim pelo simples fato de existir, por favor, entre lá no Wikipedia, procure por Inventario das Delicadezas e apóie a presença do artigo sobre o livro. Sabe-se lá qual futuro Kafka pode ser cortado e ter sua obra queimada da web só porque ainda não ficou famoso. E se isso não é censura, de repente está na hora de alguém ir lá corrigir o verbete para os administradores do site.

***

Fiquei pensando na frase do Beatty, e com ela na cabeça fiz uma busca rápida na Wikipedia.

Encontrei, em pouquissimos segundos:
- Paulo Coelho e toda a sua (hahahaha) obra.
- Sidney Sheldon e tudo aquilo que ele, e o grupo que escreve por ele, lançou.

Até aí, "dê as pessoas competições onde eles ganham ao se lembrarem das letras das canções mais populares..."

Porém, sempre acho que podemos encontrar algo PIOR na vida:
- Banda Calypso (claro, porque isso sim é notoriedade!)
- Bruna Surfistinha: artigo para ela, para o seu blog e para os dois livros publicados.

Creio que todo a porcaria citada tem o direito de estar na Wikipedia, afinal o portal é uma enciclopédia. E em enciclopédias escrevemos aquilo que foi (no caso, é) produzido pela sociedade. Não importa se o grupo produz arte, ou se produz lixo. Se contrói uma TABA ou ARRANHA-CÉU. As moradias indígenas lá estarão, assim como o Empire States.

Logo, por que em uma enciclopédia-viva, livre, não pode constar:
- o "Inventário das delicadezas" (ele é PIOR, ou é menos "produção social" do que "O Veneno do escorpião"?)
- traduções feitas com cuidado, que citam a fonte, mas que não foram feitas por amigos dos moderadores?
- o perfil de um músico que organiza grupos em comunidades carentes e com esse projeto contruibui para a inclusão social? (ele é MENOS músico do que os Calypsos?)

VERGONHA

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