Eu nunca tinha reparado como fica escuro cedo, e como fica muito escuro, agora no inverno.
Quer dizer, posso até ter reparado antes, mas nunca tinha sentido isso com tanta intensidade com este ano, nestes últimos dias.
Talvez porque tem chovido muito, durante muitos dias seguidos, e mesmo quando não chove o céu segue num acinzentado chumbo que deixa passar muito pouco da luz do dia, e faz tudo parecer noite mais cedo.
Talvez porque ano passado estava tão envolvida com a concepção e realização dO Livro que nem olhava para o céu nem via se estava claro ou escuro porque não importava muito, desde que eu continuasse a revisar, reler, corrigir, separar os postais, convidar pessoas, atualizar o site.
Talvez porque este ano estou desacelerada - ok, é verdade, mas não é por vontade própria - e ando um tanto doente (bem, o termo certo deveria ser "com dores generalizadas e sem origem específica", mas de repente um tanto doente resume tudo), e um pouco cansada, talvez por causa disso eu esteja mais propensa a olhar para cima, olhar ao redor, perceber melhor as coisas.
E daí venha a perceber que anda ficando muito escuro, logo que anoitece. O sol não se estende nem se espalha, nem estica seus raios até o último minuto sobre as ruas, reverberando com reflexos nas janelas e vidros dos prédios como nos dias de verão. E até nem dá muita vontade de estar fora de casa, enquanto o frio não passa e ainda não é verão e o sol também se esconde e se recolhe e se encolhe o quanto pode, saindo de cena logo que acaba seu horário oficial, guardando seu calor pra si mesmo e pras outras partes do mundo por onde ele segue passando.
E daí venha a sentir muito mais frio e muito mais preguiça, e acabe sentindo muito mais vontade de ficar quietinha, tomando chazinhos e sopinhas e me esquentando de outras formas e tenha sentido até mesmo preguiça de escrever e atualizar o blog.
Mentira. Quero dizer, toda a parte do frio até a parte da preguiça é verdade, ou, bem, coloquemos assim: é não-ficcional (principalmente considerando que este blog é tão permeado de ficcionalidades e inverdades e invencionices, que são, sempre, literariedades). Ao passo que a parte sobre a preguiça de escrever e atualizar o blog é, bem, digamos, ficcional sem ser literarierável. Se é que me é permitido inventar palavras assim à torto e à direito.
O fato é que o blog passou, nestes dias, semanas e algumas horas, para um segundo plano, ou, melhor dizendo, um terceiro - de repente seria melhor dizer logo, quarto - plano. Desceu alguns números na lista de prioridades, porque se tem uma coisa que realmente é prioridade, ao menos pra mim, é a vida real. Já que estamos na parte de explicações do post, seria melhor dizer, a parte não ficcional não negociável da vida.
E essa parte é boa, sabe. Coisas boas acontecem nesse plano não ficcional, coisas melhores do que eu jamais poderia imaginar no plano ficcional. E olha que criatividade eu tenho aos montes (mesmo que evite sempre sempre criar ou mesmo insinuar informações ilusórias, porque isso eu deixo para os doidos, desavisados e desocupados de plantão), mas sei bem separar o que é joio do que é trigo e, mais ainda, sei identificar o que é jóia.
Então nessas de encontrar as jóias, acontece que eu também sei limpá-las e lapidá-las, quando precisam, e acabo sempre encontrando um anel ou um colar ou mesmo um relicário em que elas caibam, e fiquem lindas, e iluminem o ambiente, a vida, o momento. E o blog passou para segundo (terceiro, quarto, em alguns momentos quinto, mas isso eu já expliquei e, bem, tempo é muito importante, então passemos adiante) plano mediante algumas jóias encontradas no plano não ficcional. Não exatamente pérolas, porque para encontrar pérolas é preciso que se mergulhe fundo, e é preciso que se abra as ostras - e, não sei se é sabido de todos, mas ostras são seres muito conscienciosos de sua privacidade e espaço, e podem ser perigosos, caso não se saiba lidar com eles - com cuidado, e pedir com educação para retirar a pérola dali, sempre lembrando de deixar no lugar um grãozinho de areia, um fragmentozinho de concha, para que a ostra se apegue a ele tanto quanto era apegada à pérola e lhe deixe em paz. E, caso as palavras anteriores não tenham lhe escapado, bem, anda muito frio para mergulhar muito fundo. Frio e escuro.
É que escurece muito cedo nesta época do ano, e talvez eu nunca tenha reparado antes, ou talvez este seja um ano peculiarmente mais escuro que os anteriores, e definitivamente o sol anda aparecendo pouco. E anda chovendo muito, e mesmo quando chove as nuvens escuras permanecem, e se espalham pelo céu e se esticam até o horizonte, até onde podem tapar o sol e seus últimos raios do dia com mais eficiência. E é por isso que eu ando mais preocupada em manter o calor, ainda mais que estou desacelerada -bem, não que tenha sido por escolha ou vontade própria, mas os acontecimentos não me permitem andar no meu ritmo, que é sem dúvida mais veloz do que o normal dos acontecimentos -, mesmo que não seja bem uma opção mas se caracterize mais por uma norma, nestes dias, e o fato é que por andar mesmo desacelerada, o calor me é caro, e os momentos disponíveis para este blog (entre outras coisas mais ficcionais, digamos assim) andam raros, mas ando encontrando jóias e coletando-as e colecionando coisas muito mais importantes para mim (e bem, por que não dizer, também para o mundo, no momento em que depende da minha compreensão e concepção e organização mental o bom andamento do mundo) que poderão ser importantes de uma maneira bem mais abrangente no futuro (believe me when I say this) do que podem parecer agora.
Então que não é estação propícia para ficar mergulhando fundo, nem para ficar chasing cars, como diz a música, muito menos para ficar tomando sereno, com todo esse frio que anda fazendo. Mas de repente eu não reparei, anteriormente, que faz tanto frio nesta época do ano, mas pode ser que este seja um ano atípico. Pode ser, também, que sempre sempre escureceu assim tão cedo, e sempre sempre o escuro foi tão escuro como me parece que é agora. E se sempre sempre sempre foi assim, de o sol se recolher, e o frio recrudescer, e o escuro nos fazer empalidecer, de repente é uma coisa um tanto boa que eu possa estar desacelerada desta forma, porque somente desta maneira posso, se de nada mais vale, reparar nesse fato, nessa realidade, ou melhor, nessa não ficção, e poder contemplar o mundo de um ponto-de-vista, para dizer o mínimo, diferente.
(Because are those things, those little, even insignificant things - as it might seem at a first glance - that happen to you, that can be considered your life, while your mind and your thoughts might be elsewhere)
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