novembro 13, 2007

Circunvoluções

O mundo segue em circunvoluções, mudando de pouco em pouco o diâmetro, a direção, e assim segue em frente com diminutas diferenças de direção de uma volta para a outra, desenhando uma espiral, um ângulo quase imperceptível no universo.

E enquanto o mundo move, movemo-nos nós, em direções opostas, distintas, achando bem felizes que somos nós a comandar a dança das estrelas a nossa volta, nem percebendo que estamos conectados pela inércia a esse trajeto volteado, enrolado, quase ao redor de si mesmo que é o girar do mundo. E acreditamos que sabemos onde estamos, e quando, e quem somos, e porquê.

Quando é que percebemos que estamos num lugar completamente diferente do que imaginávamos, do que desejávamos? Quando é que nos damos por conta de que o mundo girou e mudou a rotação in spite of us? Apesar de nós, indiferente a nós e às nossas coleções de desejos e dores que fiamos feito rosário para nos lembrarmos de quem somos, uma cantinela que nos impede de esquecer por onde passamos, os buracos por onde caimos, todos os andarilhos que, como nós, estão à deriva nessa rota infinita e que nos machucam ou nos lambem as feridas.

Quando é que fazemos a pergunta certa para as respostas que recebemos todos os dias? Quando é que percebemos que as perguntas e respostas não importam, porque seguimos, apesar do mundo, apesar das microscópicas alterações de rota do mundo, e que sempre acabamos num lugar diferente do que começamos? E se percebemos isso, a percepção tem a capacidade de nos fazer melhor ou apenas mais céticos, um tanto mais tristes, menos habilitados a acreditar?

No fim, isso não faz a mínima diferença, porque continuaremos a desejar que as mudanças sigam pelos caminhos que queremos, e o mundo continuará alterando sua rota, sua infinita rota, numa fração de quase nada nas voltas que faz ao redor do próprio umbigo, desenhando uma curva bela infinita involuntária pelo sem-fim.

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