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outubro 14, 2009

Tanto tanto tanto.

Essas duas últimas semanas têm sido de uma delícia geral, e o final de semana foi a cereja do bolo.

Ok, é claro que tudo tem seu preço e o que eu tenho que pagar é ter que voltar para o Irã, e ter que ouvir mais um tanto de barbaridades de Ahmadinejad e de seu comparsa, Aiatolá Khamenei. No último episódio eu havia contado que tinha entrado em contato com a Anistia Internacional. Pois bem, não deu muito certo, mas isso fica pra ser explicado depois, que eu vim aqui pra falar de coisas boas.

Sexta, um casamento. Sábado, um almoço e um revival. Domingo, visitas e seriados. Segunda, feriado, comemore.

Tem algumas fotos, vocês querem? Eu posto, eu posto.

Só passei mesmo pra dizer que voltei. Voltei pra cá, voltei pro Irã, voltei para a sensação de que está faltando oxigênio neste mundo e que há muitos figurantes inúteis respirando.

Tá na hora de chamar o roteirista e conversar com ele de pertinho. Antes que as bombas atômicas comecem a explodir de verdade.

setembro 13, 2009

Lei das Compensações

Sexta-feira à noite, quando a chuva não dava trégua e parecia nunca mais acabar, eu estava contente. Feliz, satisfeita.




Sábado pela manhã, quando a chuva deu uma pausa, e não estava frio, e eu estava fazendo uma coisa de que gosto muito, estava também furiosa, indignada, ofendida, e com raiva. Muita raiva. Um desgosto só.




Sábado à noite, quase dormindo, com frio, fiquei surpresa. Contente com a surpresa.






Com a certeza de que deve existir no universo uma secreta lei das compensações de nos dar algumas certezas boas que restituem o equilíbrio depois de uma coisa muito muito muito ruim.
(Agora uma reflexão: não sei se o pior de tudo é você ter a pessoa como uma referência e daí, num rompante de loucura temporária ou insatisfação ou mesmo talvez tédio, essa pessoa se desfaz no ar, evapora como fumaça fraca, rala, que não deixa nem cheiro, essa pessoa se auto-destrói aos seus olhos admirados, espantados, um pouco tristes, destrói a imagem que você tem dela, o respeito que você tem por ela, e por um momento parece que tudo o que foi construído por ela foi uma mentira, foi um sonho, foi algo que você leu ou que viu na televisão, ou o pior é você conhecer essa pessoa tão bem a ponto de saber que essa pessoa é dada a esses rompantes, a essas loucuras temporárias, a essas insatisfações inexplicadas, é dada a sair esbravejando contra o mundo ou contra quem estiver na frente, e você saber que tem que relevar e seguir em frente, porque uma pessoa que tem tantos altos e baixos de humor não merece ter suas palavras tão valorizadas assim.)

agosto 03, 2009

Momento reflexão





"O Naipe de Paus (ou Varas como é conhecido por alguns) no Tarot é relativo ao elemento de fogo. O Fogo da-nos energia e paixão para realizarmos as tarefas mais ativas."

junho 22, 2009

Enquanto isso, no Irã...

(Um aviso. Para aqueles que nadam raso, com medo de mergulhar, mera notícia. Para escafandristas, será um grande iceberg. Ou, simplificando, para bom espremedor, meia laranja.)


Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, engordou, deixou os cabelos crescerem, cortou a barba e virou mulher. Ele é áspero, ácido, e, acima de tudo, dissimulado. Um horror de pessoa. Ainda mais para se ter por perto. Porque Ahmadinejad controla um país achando que controla a História. Que controla o Mundo. Ele resolveu agora que merece o Poder, que é uma consequência divina de sua existência manter-se no Poder. Ele resolver agora que é sua função controlar tudo e tudos.

E a pior parte vem agora. Ahmadinejad virou meu chefe. O mesmo Ahmadinejad que implicava comigo quando eu cheguei ao Irã, quando eu botei meus pés nesta terra árida e seca e cheia de pó. Cheia também de ódio e mágoas e, por Alá, tantas intrigas e tantas tramas por baixo dos panos e dos véus, que até eu entender onde vim parar e o que estava acontecendo à minha volta, o plano já estava traçado e a bomba atômica era uma realidade.

(Ahmadinejad, meu chefe, e sua megalomania)


Pois eu achei que playing low, sabe, aquela coisa de fazer meu trabalho direitinho, e não chamar atenção e não desagradar o Big Boss. Como por exemplo nunca usar coisas roxas nem azuis, porque ele não gosta, e lhe desagrada mais ainda coisas bonitas que não lhe pertençam e que ele não possa ter. Sabe a criança que põe sua bola debaixo do braço e bolta pra casa porque o Kichute do vizinho é mais bonito e apareceu na tevê. Difícil de agradar.

Tamanho engano espero nunca mais cometer. Ahmadinejad é vingativo, é maldoso. E primeiro me tirou o direito de estudar. Mulheres não podem estudar, porque estudo gera pensamento, e pensamento gera mudança, e mesmo que a mudança seja boa, qualquer mudança para Ahmadinejad é sempre ruim, chacoalhar sua masmorra de Poder (que ao fim e ao cabo é feita da mesma areia e pó e terra seca) é sempre a pior escolha.

Mas aí é que aconteceu. Eu comecei mesmo a ter idéias. Idéias de liberdade, idéias de justiça. E achei mesmo que o meu voto fosse mudar o mundo. Juro, eu acreditei nessa baboseira. E quando vi que era tudo uma armação, fui ao poder mais alto, reivindicar direitos e exigir punição a toda a maldade que vinha acontecendo.

Marquei audiência com ninguém menos que Aiatolá Ali Khamenei, que é quem manda mesmo e sempre dá a última palavra. Agora imagine, Aiatolá Khamenei é uma pessoa alta, mas perdeu a barba, e tirou o turbante, deixando a careca avançada à mostra, com os mesmos óculos. E a mesma imagem do Aiatolá Ruhollah Khomeini, entidade máxima religiosa e mandatória.

(Khamenei e seu enigmático sorriso me enganaram direitinho)


Pois bem Aiatolá Khamenei, que sempre me pareceu uma pessoa de bom senso, com um tanto de atrapalhação mas, ao fim, uma pessoa correta, justa. Pois bem, a medida que ia falando, ele se afastava e se afastava, esticando pelos lábios um sorriso duvidoso, com um tanto de malícia escapando por cada canto da boca.

Como se dissesse, você acabou, minha cara, ele não moveu um dedo para me defender. Esticou o pescoço para sinalizar ao representante da Guarda Revolucionária do Irã, e foi o meu fim.

Não sei como eu pude ser tão ingênua. Agora que estou presa, prestes a ser torturada, nem a Anistia Internacional pode me salvar agora.



(Khomeini é o pastor e certamente me torturará.)

novembro 27, 2008

Alguém há de me entender.

Estava enlouquecida por causa da Feira, que acabou e da qual eu nem falei nem nada. Mas não era por isso. Estava quase arrancando os cabelos porque queria-precisava encontrar minha lista de livros desejados e não achava em lugar nenhum.




Abri todas as gavetas - e isso ainda antes da Feira -, revirei todas as bolsas, e nada.




Pensei cá com meus botões que só poderia ter deixado dentro de um caderninho*, que é onde eu coloco todas as coisas importantes da vida. Mas nada, nem isso. Abri todos, folheei-os um a um, e achei tanta coisa interessante, anotações, bilhetinhos, idéias, minha outra identidade, que até me perdi no meio da procura.




Mas nada da lista.



Como eu sou Cristina e sou prática, deixei de lado a história da lista, e resolvi experimentar a Feira no instinto. Feeling with the guts, farejando os livros aos poucos, passeando pelas bancas sem muito rumo certo.




Foi ótimo, porque achei diversas coisas que sequer procuraria se estivesse munida da lista. Achei a Joyce Carol Oates, e o Tomasi di Lampedusa, e a Jane Austin, e a Virgínia Woolf, e o Alan Pauls e o Alain de Botton. E, claro, o Bioy Casares, que apesar de já lido, está numa edição tão linda, mas tão linda, que eu não resisti. E, surpresa, nos arredores da Feira, numa livraria que fica fora do quadrilátero da Praça, encontrei Os Miseráveis, na edição nova, e a Anna Kariênina, os dois pela metade do preço. METADE!! Eles são lindos, meus livros!




Aí que hoje tive uma folga, e, como sou brasileira e não desisto nunca**, resolvi colocar algumas coisas em dia, em ordem, jogar fora alguma tralha, essas coisas. E, adivinhem se não encontrei minha amassada lista? Claro que sim. Dentro de um livro, junto com uma consulta marcada para maio, embaixo de uma pilha de papéis de contos lidos em aula, misturados com revistas e outras bobagenzinhas.




A busca não foi em vão, no meio do caminho encontrei várias outras coisas que estava procurando. E eu precisava de um certo sentido de ordem, mesmo que fosse um tantinho de nada, mesmo que apenas ao meu redor.



Faltou dizer do Machado de Assis, esse com a capa linda ali da foto, e uma edição nova do Madame Bovary. E um Umberto Eco, por influência da palestra da Dra. Joana, e um Jung. Viu, é tanta coisa que eu me perco com tão pouco. Mas tenho certeza que isso é a iminência dos trinta. Não digo que é inferno astral porque passei o ano inteiro assim (a menos que eu seja de Saturno, e daí tenha apenas um ano de idade ainda não completo), mas sei que o ano que vem (ou os próximos trinta, dependendo da contagem) será bem melhor.
* Piada muito mais que interna. Piada quase que comigo mesma.
** Rá!

setembro 24, 2008

Preguiça

Ou seria apenas a comodidade de falar tudo em apenas um punhado de palavras coroadas por uma bela foto?

Talvez seja preguiça mesmo, mas o fato é que nestes últimos dias eu tenho pensado bem mais na foto do dia do que no texto do blog (que não é de todo o dia mas deveria ser bem mais periódico do que está sendo).

Pode ser preguiça, mas pode ser que seja atucanação* total e completa. Desde que voltei de viagem que tento (em alguns casos inutilmente) colocar em rumo certos vagões descarrilhados, tento (em alguns casos inutilmente) resgatar bagagens e passageiros de vagões que simplesmente saíram dos trilhos em plena ponte se espatifaram precipício abaixo.

Aí que eu passei um tempão olhando vários links e pulando de links em links para descobrir um adorável, cor-de-rosa, que me falou um pouco de assertiveness, e que me lembrou de que se não está me fazendo bem, então tem que ser descartado. Não, não é do blog que estou falando, nem de você, caro leitor ou leitora que me visita sem mesmo às vezes deixar recado, nada disso. Estou falando dessas coisas de resgatar trens e procurar, entre os corpos do gigantesco trainwreck que virou este e aquele aspecto da minha vida, algum objeto que sirva de identificação, de moeda de troca (por algo mais útil no fleamarket emocional mais próximo) e de matéria de grievance&closure emocional.

Então que nisso de pensar assertivamente (viu, eu também sei usar as palavras em português!) na hora me fez decidir por deixar todos os restos e vestígios do que antes existia por lá, no local do acidente, no momento exato do descarrilamento, congelando para sempre no tempo e no espaço (emocional e mental, só para ter certeza que todo mundo entendeu que é metáfora) isso que doeu e que desandou e que poderia ter sido evitado se a manutenção dos trilhos e dos caminhos e, principalemente, das pontes tivesse sido efetuada quando as primeiras faíscas e divergências surgiram.

Seria mais confortável jogar tudo pro ar e deixar que o apodrecimento lento e gradual que é natural do mundo faça sua parte e consiga, de repente, reutilizar qualquer matéria (carbono, nitrogênio, metais, sei lá) lá abandonada transformando-a em algo bom. Como diz uma "comparsa" minha, tudo acaba tendo alguma função, mesmo que seja para virar catarse no papel e, quem sabe, literatura.* *

Acontece que não é tão simples como parece, e o que me mata é que eu me sinto absolutamente, de uma maneira intransferível e irrevogável, responsável por tudo e todos ao meu redor. Transtorno psicológico? Beirando a insanidade total. Mas o que se pode fazer se é assim desde sempre?

Então que, dividida entre a culpa por não querer fazer nada nem mexer em restos mortais e a culpa por sentir o peso da responsabilidade e a obrigação de ir lá limpar o terreno (para, quem sabe, surgir algo melhor, mais bonito, mais funcional e moderno, quase como um GroundZero emocional em reconstrução), fico em cima do muro, fico congelada, sem andar nem sair do lugar. Uma ótima desculpa para a preguiça tomar conta de tudo.

Ah, já que não estou resolvendo as urgências e assuntos maiores, então não tenho que resolver os assuntos menores. Ou então, ah, resolvo este assunto secundário depois que resolver as grandes prioridades do mundo. Que, em alguns casos, não estão sequer sob a minha "jurisdição"***

E assim a mala fica mais um dia sem abrir, as fotos ficam mais um dia sem serem enviadas para a empresa que irá imprimi-las, os livros ficam mais um dia sem serem tirados do caminho (sim, eles estão querendo me sufocar!), as roupas ficam mais um dia amontoadas no armário, as inutilidades ficam mais um dia sem irem para o lixo e os presentes ficam mais um dia sem serem entregues e, bem, a lista é imensa, praticamente sem fim.

Pra piorar a situação, inventei de tomar um café depois de determinada hora (porque eu ando muito sugestionável e influenciável) e não consigo dormir, apesar do cansaço. Aí, bem, insônia e cansaço físico, para mim, resultam em apenas uma coisa****: escrever no blog e desabafar e ver se pode surgir alguma coisa boa de dentro dessa bagunça toda.

(É, sim, vocês descobriram de onde surge ao menos uma coisa: as interminávels olheiras que me deixam com uma aparência de cansada e doentia.)





* Atucanação pode parecer relacionado com tucanos e outras aves narigudas. E de repente esse foi o início do cunho de verbete tão tipicamente gauchesco, mas eu agradeço aos dicionários pelas sempre providenciais explicações.

** E vejam que aqui demonstro ter aprendido alguma coisa, mesmo que bem pequena, nestes quase trinta e seis meses de Oficina. Catarse, ou seja, despejar suas emoções, indiscriminadamente, no papel, é quase tão útil quanto um papel higiênico que foi usado para se assoar o nariz durante uma gripe. Mas, às vezes, é um assoar das narinas que nos faz respirar melhor. E todo mundo sabe que é respirando que se leva o oxigênio ao cérebro, e todo mundo sabe que é o oxigênio o combustível primordial para qualquer idéia ou pensamento ou coisa que o valha. E se todo mundo sabe, eu não preciso nem ficar repetindo nem ficar explicando e perguntando, ãhn bem você entendeu o que eu quis dizer?

*** Só pra não dizer de novo responsabilidade. Mas é pra ser responsabilidade. Até porque eu não me sinto bem usando legal terms on my everyday life. ("I object!" e dou um prêmio para quem me disser a referência desta frase neste exato contexto. Valendo!)

****Ok, duas coisas: escrever no blog e ficar ainda mais cansada no dia seguinte, tornando altas as chances de chegar atrasada no trabalho.

abril 08, 2008

E, oi, é, estou aqui.

Sim, estou viva, estou por aqui. Um tanto desligada, um tanto em momento-concha, mas ainda por aqui.

Ainda não me perdi. Ainda não esqueci a senha. Ainda não desisti completamente (até porque não farei mais isso, uma das minhas metas pessoais: seguir adiante com os projetos) nem mudei de endereço.

Ando um tanto contrariada. Muito trabalho e pouco descanço. Ar muito frio por dentro e muito muito calor do lado de fora. Um tanto de dor no corpo e muita dor de garganta. Muita insônia e um tanto de writer's block.

Nada que não passe. Nada que uma pororoca de lua crescente não carregue e destrua e bagunce e, no meio de isso tudo, revire a terra e as idéias e me obrigue a reconstruir tudo e pensar sobre a reconstrução, sobre o melhor modo de reconstruir tudo. Se num momento há cheias e inundações, no momento seguinte há a terra fértil e a colheita farta, e assim segue a vida, ciclicamente.

Ainda não me perdi de todo, sabe, então me dê tempo ao meu tempo. Daqui a pouco tem a colheita, e também isso toma tempo. E eu garanto a qualidade dos frutos.

fevereiro 25, 2008

Every new beginning comes from some other beginning's end



Uma semana acaba, e outra começa.

E, pra variar, estou cansada, com sono atrasado, e com uma imensa vontade de sair correndo e voltar ao final de semana.

Depois da formatura da Paty, só consegui dormir, de descansar mesmo, sábado à tarde, depois do late-lunch, uma sonequinha em que caí em sono tão profundo como há muito tempo.

Aí teve a cerimônia do Oscar, e quem disse que eu consigo dormir cedinho pra não estar tão acabada hoje?

Só tive tempo de sonhar, e me revirar na cama com o calor, e acordar ainda com a sensação de ter coelhinhos bem pequenos e branquinhos na mão, porque eles corriam pra todos os lados e uns fugiam e outros voltavam, e eu tinha que fazer com que todos entrassem nas suas devidas casinhas.

Aí eu fui procurar o significado de sonhar com coelhos. Entre um significado e outro, eu ainda fico com este aqui. Se é pra ser um novo começo, que ao menos seja um bom, e com sorte!

(eles eram muitos, muitos, e assim fofinhos, só que bem pequenininhos.Dá um trabalho que eu nem te conto!)

janeiro 30, 2008

Hermetismos

Ando muito hermética, é fato. Mas é assim mesmo, de tempos em tempos tudo se mistura, mas não se homogeneiza, como uma massa embolotada.

E também isso é parte do processo, avaliar a massa, dosar as quantidades, colocar a manteiga e o açúcar e o chocolate e mexer lentamente, sobre calor constante - nem tão quente que tudo queime, nem tão frio que não sirva para fazer funcionar, numa temperatura tão adequada quanto um abraço - e observar como tudo vai aos poucos deixando de ser manteiga e açúcar e chocolate para tornar-se calda, uma calda espessa e escura, e ainda assim não ser exatamente o que se deseja, porque daí é preciso adicionar também a farinha, e diminiur o calor para que ela não embolote, e continuar mexendo constantemente, nem muito vigoroso para agitar ainda mais as moléculas do fermento e causar um crescimento precoce (o que pode pôr tudo a perder) e nem tão delicadamente que não provoque a mistura desejada. E depois, ainda se coloca tudo em forminhas, e dentro do calor hermético do forno, provoca-se a transformação.

O que se observa, ao final do processo, é que a farinha e o fermento alquimisticamente (ou, em outro significado, só para ser um tantinho repetitiva, hermeticamente), adicionado o calor intenso do fogo, incitam o chocolate e a manteiga e o açúcar a abrirem mão de suas existências sem abdicarem de suas essências e tem-se um delicioso petit-gateau. Que, ainda assim, não é uma coisa só, mas uma sobremesa em transformação, pois aparentemente é um bolinho com a casca torradinha mas, ao se quebrar a casca, tem-se um delicioso creme, que acaricia a língua e aquece por dentro, acabando por transformar também quem prova.

O hermetismo deixa de ser misterioso e confuso, passa por alguns momentos de alquimia e transformação e pode encerrar-se em si mesmo, num ente perfeito, arrendondado, sem início e sem fim. Como é sem início e sem fim todas as transformações por que tem que passar uma pessoa.

Neste momento o meu hermetismo quer dizer confusão mesmo, afinal ainda estou na fase de montar os ingredientes, ainda não acertei a água do banho-maria para derreter o chocolate, mas estou tentando, provando outras formas, transmutando os elementos dentro de mim para chegar ao ponto certo da calda. Assim a minha casca por fora serve pra proteger o cremoso recheio - o chocolate! - da minha vida, que só se abre e é oferecido a que realmente merece.

Ainda não cheguei de todo ao ponto da hermética do forno, ou, pior, já estou lá e ainda não notei. Tudo bem. Se estou lá é porque estou transmutando, combinando todos os elementos de mim até chegar no ouro. Ou melhor, na calda de chocolate, antes que eu me perca na própria imagem que criei e acabe sendo ainda mais hermética do que planejava.

novembro 27, 2007

the sun goes down, and in its own way, in this blue shade, my tears dry on their own

Nothing left to say but this.


(Mentira. Tem muito que dizer, tem muito que explicar, tem muito que precisa caber nesses pequenos espaços que tenho para me organizar e parar e refletir sobre mim mesma e sobre como me insiro no mundo e sobre como altero o mundo ao meu redor pelo fato de estar nele, mas essas coisas não cabem no agora, no hoje, no tão tarde deste agora de uma e pouco da manhã, então simplesmente tento resumir tudo tudo tudo nessa mísera frase que não diz quase nada, que é só abrangente mas tão vazia, que deixa tanto espaço para interpretação, justo eu que sou tão preocupada em ser específica, que acho tão importante ser sempre bem específica, ser compreendida, me fazer ser entendida, e de repente assim do nada o fim dos meses que leva ao fim do ano me engole e me leva de arrasto, e eu simplesmente caio de joelhos, e eles doem e ficam com a pele esfolada e arde tanto na água desse mar-agitad0-tsunami-maker que é a minha vida que parece que nunca mais, nunca mesmo, poderei me reerguer e sentir meus pés de novo em solo firme, poderei caminhar pelas minhas próprias pernas movidas pela minha própria vontade, porque simplesmente rolo feito pedra, feito seixo, feito concha vazia, nesses meses que viram final de ano que são ondas nesse mar, e eu já disse que é um mar-agitado-tsunami-maker esse da minha vida?, e você já reparou que sempre que alguém quer fazer uma metáfora com algo fora de controle, especialmente relacionado aos sentimentos, sempre encontra uma imagem de água, de chuva e tempestade, de mar e oceano, de ser gota e não ser nada e estar no fundo e não ter fôlego de chegar na superfície, e como ficam sempre com ares de lugares-comum, de clichês, você não acha?, mas, não, não era esse o assunto, o assunto era que sim, estou sem fôlego, estou mesmo longe da superfície, mas só porque não consigo parar para respirar, não consigo parar para pensar, não consigo mais parar para simplesmente descansar as pernas e botar um curativo nos joelhos esfolados de tanto rolar nas pedrinhas do fundo desse vai-e-vem-feito-onda-com-repuxo que acaba sendo o desenrolar de dias que viram meses que chegam logo no final e se tornam num piscar de olhos, ou, melhor dizendo, num vai e num vem dessa coisa feito onda com repuxo, o fim de mais um ano, numa movimentação absurda, seriam as moléculas ou o calor, ou a pressa de chegar no outro ano, ou a ansiedade de fazer tudo que ficou faltando fazer no ano todo caber nesses poucos dias que faltam, ou o simples medo de chegar ao fim de alguma coisa, ao fundo do poço, ao fundo abissal desse mar-agitado-em-ebulição e raspar as mãos tentando dar um impulso para voltar à superfície, nessa movimentação estranha e insana que vai de lugar nenhum para um outro ponto qualquer não identificado, mas também não é importante agora, porque continua sendo tarde, por mais que fique tergiversando e divagando e mudando os rumos da conversa, uma vez que não consigo muito mudar os rumos da História, sabe, e continua sendo o pouco que diz a frase ali sozinha, perdida, pendurada feito enfeite de natal esquecido para fora da caixa depois do dia de reis, e uma vez que tudo tudo tudo o que me é importante e essencial e que está me acontecendo por agora não cabe, nem caberia mesmo que eu tentasse, nesse resumo tão vazio de uma frase tão abrangente, não adianta nem tentar continuar a escrever, até porque preciso dormir, preciso descansar para estar acordada amanhã - hoje, já é hoje, ui! - e bem e atenta para de repente, talvez, quem sabe, consiga respirar fundo, encher o pulmão e descer bem fundo nesse mar-rio-tempestade-tsunami-arrastão-com-repuxo que é a minha e faça as rodas que giram o mundo e fazem a História ir adiante pararem por alguns instantes, alguns minutinhos me bastam, juro, para que eu possa sentar e contemplar o caminho que trilhei até aqui, e para que possa escrever tudo que se passa na minha cabeça e possa considerar com calma tudo todas as possibilidades de porvir e, quem sabe, numa chance difícil, consiga finalmente explicar e contar o tudo que me ocorre e que ocorre no mundo em que estou e que ocorre por desejo e ação minha e que sirva para explicar e organizar os pensamentos, para que os próximos passos, sejam eles passos por própria vontade, ou passos levados de arrasto, possam ser mais cheios de consciência e mais completos, sem espaços para interpretações ou vazios que não me servem.)

setembro 19, 2007

Descuido

Ando descuidada de mim. Ando desleixada, despreocupada, eu diria. Distraída de certos detalhes, que eu prezava tanto em outros tempo.

Ando sem tempo, na verdade. Agora mesmo, por exemplo, acabei de pintar as unhas. Acordei cedo, tomei banho, respondi emails, cobrei algumas respostas, depois fui ser pessoa-séria-que-trabalha-com-carteira-assinada por algumas horas - sem desgrudar, é claro, do computador, e das caixas de email esperando as respostas que preciso. Aí tive que lidar com uma falta de luz por horas. Aí brinquei de assessora de imprensa. Aí, quando a luz voltou, voltei a ser a pessoa-séria que ajuda os descuidados a cuidar de sua vida. E quando se achava que o dia já tinha encerrado, que nada, fui até a gráfica para buscar O Livro. O Um Livro. O #1 mesmo, ainda quente do forno. Tudo isso com o telefone na mão, entre guarda-chuvas, materiais, sacolas, agenda. E, quando cheguei em casa, ainda tive mais atividades relacionadas ao livro, como separar o material de todos para a divulgação, preencher alguns postais para mandar amanhã, escrever alguns emails, brincar de assessora de imprensa mais um pouco.

Só agora deu tempo de arrumar minhas unhas. Alguns breves minutos para lixa, base e esmalte. E nada de esperar secar, que foi pra isso que inventaram o super-spray secante. Minha tia diz que já estou viciada, mas o negócio funciona, sabe, e eu amo quando as coisas funcionam. Como agora, que meu som está de novo funcionando, depois de um pequeno surto de mudez. Como agora, que meu computador resolveu colaborar.

Ainda tenho que tirar a minha foto de bathroom para o SelfPortraitChallenge. Ainda tenho que ir atrás de um carimbo de números. E plásticos. E imprimir o release para ir junto com o livro. Ah, sim, claro, pra isso tem que buscar o livro. Pra isso ele precisa estar colado, e nisso a gráfica não está funcionando muito bem...

E ainda tive tempo de arrumar minha mesa, me livrar de uns papéis e coisas desnecessárias e fazer algumas ligações para convidar as pessoas para o lançamento.

Tudo isso sem parar. Tudo isso sem tempo pra respirar, para pensar em mim, para esticar as costas feito gato para relaxar os músculos e estar pronta pra mais atividades. Tudo isso sem conseguir calmamente me olhar no espelho e dar um jeito no cabelo, preso desajeitadamente com elásticos, dois micro rabos-de-cavalo, meus finos fios espetados pra todos os lados, a franja caindo nos olhos.

Tudo isso contente. Realizada. Cansada sim, bagunçada e muito. Mas contente. Descuidada de mim mas de olho no futuro. Desatenta de mim mas bem perto do que me faz bem.

E não, não estou reclamando. É disso que eu gosto, estar no olho do furacão. Ontem mesmo estava escrevendo na agenda que era o momento de calma antes do próximo passo, o momento de calmaria antes da próxima tempestade. O segundo para respirar entre uma braçada e outra e mais uma volta na piscina (inevitáveis os comparativos esportivos meio clichês).

Posso até ser maratonista, de agüentar a jornada e ainda sorrir ao cruzar a reta final, mas às vezes é bom correr os 100 metros, só pra não perder o hábito da velocidade, só pra saber que ainda posso. Mesmo chegando descabelada e com olheiras do lado de lá da reta final.