Agora que as eleições acabaram e os prefeitos já estão todos escolhidos, reservo-me o direito de comentar alguns fatos da eleição daqui de Porto Alegre. Ok, a partir de agora esqueça um pouco as diferenças ideológicas e partidárias. Considere apenas as pessoas e o que elas fizeram, sem vincular a isso qualquer sigla, símbolo ou partido.
O pior de tudo, pra mim, foi assistir, durante um dos programas, ao Chico Buarque, fazendo elogios a um dos candidatos. Candidato esse que, não raro, fez de tudo para vincular a imagem do Presidente da República à sua, numa atestada necessidade de validação.
Pois bem, o que leva uma pessoa pública a precisar da imagem de outra pessoa pública para ter alguma credibilidade? O quê, além da sua própria debilidade, ou, nulidade?
Penso que (e veja aqui o que o avançado da noite faz com a pessoa: como seria possível que eu exprimisse outro pensamento que não o meu, e pudesse falar de coisas das quais discordo? Mas, continuemos) isso é o que de pior uma pessoa pode mostrar de si mesma. É como se a pessoa estivesse o tempo todo dizendo, olhem para mim, olhem como eu brilho e como eu tenho uma imagem bonita e reluzente, mas por favor não procurem com muito afinco, porque não acharão nada além dessa casca, tão frágil quando uma verdade escrita na areia.
É como aquelas pessoas que compram os livros para enfeitar a estante, ou que não passam da leitura de um pequeno poema, e daí se intitulam conhecedores da obra do autor, como se leitura e conhecimento funcionasse com efeito fractal.
Lembra um pouco o Mágico de Oz, com todos os efeitos especiais e fumaça, só para esconder um senhorzinho montado numa máquina alta e cheia de botões, assustado e impotente.
É por isso que fiquei, mais que tudo, decepcionada ao ver a campanha de um dos candidatos à Prefeitura de Porto Alegre. Ok, houve erros e abusos de ambos os lados, e a cada programa eu perdia um tantinho mais da minha já tão rarefeita crença na sustentabilidade da raça humana. Mas o que foi pior, ao meu ver, foi a pessoa precisar chamar alguém da grandiosidade do Chico Buarque (bom, vamos desconsiderar o fato de ele ter aceitado isso. Vamos desconsiderar o fato de que ele sequer vota na cidade. Vamos desconsiderar tudo isso, porque senão o post vai ser imenso e pode seguir por caminhos inimagináveis. E vamos continuar.), como se a luz dele (ou o sucesso, ou a inteligência, ou, pra explicitar a relação com o título, o conteúdo dele) passasse automaticamente para a pessoa, como se, ao estar perto, a credibidilidade dele fosse automaticamente transferida para a pessoa.
O que essa pessoa (ou os responsáveis pela campanha ou mesmo o partido)ela não percebe é que apenas reflete, como um latão polido reflete o sol do meio-dia, mas fica completamente opaco ao cair da tarde.
E esse é o resumo da diferença entre significante e significado. E de repente as pessoas começam a perceber essas coisas, já não engolem qualquer coisa e passar a questionar mais o que fica por trás da fumaça ou o que vai além do basicão que se aprende no colégio (como conhecer de cor "de tudo, ao meu amor serei atento" ou "o poeta é um fingidor" e não saber o que passa "além da Taprobana" nem quem venha a ser Ricardo Reis e Alberto Caeiro.) e talvez isso seja aprender a pensar por si, e não aceitar qualquer coisa tão facilmente.
Mas talvez seja apenas uma aberração no comportament coletivo, conseqüência da crise mundial econônima ambiental e de pensamento.
Ou vai ver que eu já estou ficando com muito sono e já não consigo mais discernir entre o que está dentro e o que está fora, sabe, nessas horas em que o acordar e o dormitar são muito parecidos e se caminha com um pé sobre a linha do sonho e outro sobre a linha da realidade.
Obs.: Comentários comentados abaixo. E aguarde a campanha "peça o Inventário na Feira." Ok, se vc já tem um, ótimo, agradecemos, não precisa comprar outro. Basta ir lá e pedir. E se você não tem ainda, chegue lá na banca da Nova Prova e pergunte se tem. Só pra ver se eles vão mesmo deixar os livros lá à disposição.
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