Já chove. De novo. Ao menos assim passa a minha dor, eu espero.
Tenho tido várias e várias idéias de posts e assuntos que realmente acho relevantes de serem divididos, ainda mais agora que tenho leitores (uns cinco ou seis, mas ainda assim leitores). Só que ainda não me acostumei de todo com o teclado do computador novo (que é lindo, que é vermelho, que funciona, que é assim uma Ferrari, mas que tem um teclado meio estranho, ainda mais pra quem estava acostumada com um teclado macio e dedilhável como o da compaq), ainda tenho receios. Mas este blog é all about overcoming all fears, então desisti de dormir cedo, uma vez que independente da hora em que for dormir sei que vou invariavelmente acordar cansada e com sono e com a sensação de que o dia de ontem ainda não acabou e que hoje não passa de algumas horas a mais de ontem, que não passa de algumas horas a mais no anteontem e assim por diante. Isto posto, mantenho-me acordada e escrevente. Vamos ver se chego ao fim dos assuntos.
Ontem teve o Fronteiras do Pensamento com a Äsne Seierstad e o Moacyr Scliar. Ela é a jornalista que escreveu o Livreiro de Cabul, entre outros, que eu ainda não li. Acontece que ela é fofa, simpática, com uma visão do jornalismo bem parecida com a minha, e com um posicionamento frente ao mundo - e frente às críticas que recebeu por causa do livro -que eu compreendo e aceito e acredito que estão corretas. Ela estava contando, entre outras coisas, que assistiu à derrubada da estátua do Saddam Hussein junto com três amigos de infância, dois homens e duas mulheres, e que eles, até então, não sabiam se concordavam ou não, politicamente falando, porque jamais haviam tocado no assunto, jamais haviam conversado sobre, uma vez que não havia nada a ser dito. Ela contou que o que mais lhe chamou a atenção foi o fato de um dos homens estar chorando de felicidade enquanto que o outro chorava de tristeza. Os dois amigos acabaram por brigar e se separar definitivamente, uma vez que passaram a habitar dois lados opostos no espectro sócio-político criado no país a partir da queda do ditador. Apenas a mulher não exibia reação nenhuma. E a repórter questionou-a sobre o que sentia ao ver a estátua sendo derrubada, a história sendo destruída e iniciada num novo ponto. A mulher simplesmente respondeu, ela contou, que não queria saber de nada daquilo, que não sentia nada a respeito da estátua, que não queria pensar sobre o assunto. Que pensava apenas, ela contou, sobre a comida que continuará a buscar e preparar, sobre os filhos que continuará a cuidar e limpar e ensinar, sobre a roupa que continuará a lavar, porque, afinal de contas, concluiu a iraquiana, a vida tem que continuar. Apesar das guerras, apesar dos lados, apesar do que se pensa ou não se pensa a respeito dos acontecimentos. Re-relato aqui a história testemunhada pela Äsne porque é o tipo de história que eu gostaria de ter vivido pra contar, e é o tipo de história que, acredito, ilustra bem o quão a humanidade (e, por estarmos falando em guerras, homens em geral) se separam e se dividem e se torturam e se matam por motivos muitas vezes estúpidos, que poderiam ser mais facilmente, menos dolorosamente, resolvidos caso a perspectiva tomada fosse de que a vida tem que continuar. De que crianças continuarão a nascer e crescer, e que pessoas continuarão a sentir fome e sede e continuarão a buscar respostas, seja pela fé ou pela ciência, e que isso é sempre bem mais importante do que ver quem tem mais armas ou quem mata mais inimigos.
Tenho me deparado com várias possibilidades de projetos literários, o que me deixa bem feliz. Basta ter foco e tranquilidade, coisas que estão um pouco longe, na prateleira mais alta que eu ainda não consigo alcançar.
Fora isso, tenho a intenção de catalogar todos os meus livros. Quer dizer, tinha pensado a respeito, e concluí que seria fácil, com base na olhada rápida pelos livros que tenho aqui no meu quarto. Lembrei agora que tenho ainda duas (seriam ainda três♥) caixas com livros, intocadas desde a mudança. Aí já fica difícil, porque tenho que decidir por onde começar e se abro as caixas e, caso faça isso, onde colocar todos esses livros!!! É muita coisa pra pensar. É muita coisa pra fazer e tão pouco tempo livre.
Sem falar que preciso urgentemente arrumar o meu armário. Tirar as roupas que não uso mais, embalar e encaixotar as roupas de inverno, separar blusas, calças, vestidos, colocar tudo em ordem e, principalmente, manter tudo ordenado. E não fazer como estou fazendo nesses últimos dias de apenas empurrar tudo pra baixo e fazer lugar para uma nova camada de roupa que eu não sei onde armazenar e deixar assim. Me oprime saber que está tudo caótico lá dentro.
Dei uma de criançola e comprei várias cartelas de figurinhas da Pucca. Eu amo a Pucca! A intenção era escolher um bem bonito e colar no computador lind-novo-rápido-vermelho. Mas tem a questão da cola, que depois de um tempo deixa de funcionar e deixa uma gosma nojenta e difícil de tirar. Ainda não colei, e já estou reconsiderando a idéia.
Fui na Feira, de novo. Comprei mais três livros, que estavam na minha intenção de compra desde segunda feira, e daí, acabou. Não compro mais nada. Chega. Até porque me oprime a quantidade de bancas, me deixa indecisa a quantidade de títulos e assuntos e capas bonitas que podem levar a boas histórias. Sem falar na confusão de gente, no burburinho ensurdecedor e no calor insuportável que, num dia como hoje abafado, úmido e sem vento, fica embaixo daqueles toldos com todas as gentes em volta. Ui. Não, calma, é só um chilique, é só uma leve falta de ar. Me dá um tempo que eu fico boa.
Hoje (ontem) foi Halloween. Nem me lembrei, até me deparar com monstros e assombrações por todos os lados, no trabalho. Há dias em que eu tenho absoluta certeza de que algum hospital psiquiátrico pega seus pacientes e leva lá onde trabalho para o fieldtrip do mês, pra ver se a convivência com muitas pessoas ao mesmo tempo pode ajudar na terapia. Acredito que não deve ajudar muito no caminho da cura pros pacientes, mas certamente colabora para levar a mim e aos meus colegas para a insânia.
Há dias, semanas, que não escrevo na agenda. É sempre assim, quando chega o final de ano e a quantidade de eventos e atividades se avoluma. E eu sempre me sinto culpada.
Peguei um taxi, ontem, na saída do Fronteiras e, perguntada pelo motorista, expliquei o motivo de tanta gente estar ali, ao mesmo tempo. Expliquei que era um ciclo de palestras e que os assuntos eram os mais variados e que blablabla. O taxista, intrigado, me perguntou se estava participando porque eu queria ou porque a empresa mandava - pra essas coisas de trabalho, sabe, que o chefe obriga a pessoa a fazer. Ele recebeu a minha resposta espantadíssimo! E achou ainda mais absurdo pensar que, das mil e tantas pessoas que participam, a maior parte também estivesse lá por opção. Por fim ele concluiu que era muito legal para o mundo que tantas pessoas se juntassem, ao mesmo tempo, para aprender coisas sobre como melhorar o mundo.
Há poucos minutos, logo depois que comecei a escrever, a chuva havia parado. Agora mesmo recomeçou. E cai com tudo lá fora fazendo um barulhinho delicioso sobre o toldo do pátio. Assaz convidativo para dormir. E os assuntos que ainda estão na pauta - prometo! - ficam pra amanhã.
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